Os métodos de ensino para uma Sociedade da Informação
Los métodos de enseñanza para uma Sociedad de la Información
(Publicado em 2007 – Observatório de la Cibersociedad (OCS) Rede de Virtual Internacional de pesquisadores que tem base na Espanha)
Ana Paula Sena de Almeida

Resumo
As questões referentes aos métodos de ensino neste artigo são discutidas sob as observações de um profissional de informação. Portanto, este olhar não preconiza as especificidades dos métodos de ensinar, mas fundamenta-se a partir dos dilemas da exclusão digital e nas conseqüências para o desenvolvimento da Educação no Brasil. As questões chave ficaram em dois pontos: primeiro o alto índice de analfabetismo funcional identificado em 2005 por pesquisa do Instituto Paulo Montenegro (IPM), um dos braços do IBOPE. Segundo, as demandas de uma educação para formação de cidadãos da Sociedade da Informação brasileira considerando os desafios de um país com grandes diferenças sociais e econômicas. E considerando, também, as diferenças de acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs); fator importante para compor uma infra-estrutura adequada à implantação de projetos de Educação a Distancia (EAD). Outro fator importante para o país ter aprendizes do ensino a distância é o bom desenvolvimento da capacidade de leitura, interpretação e escrita de textos. Por isso, a proposta deste artigo é questionar a qualidade dos resultados obtidos com os métodos de ensino utilizados no Brasil para formação de cidadãos em plena era da informação e do conhecimento.
Palavras chave: educação, analfabetismo, exclusão digital, sociedade da informação.
- Livro Verde – Educação na Sociedade da Informação
As escolas dispensam, mais e mais, energias diversas preparando os escolares para um mundo que já não existe. McLuhan (1911-1980)
O Livro Verde é um documento marco da entrada do Brasil na Sociedade da Informação. Nele, constam as diretrizes para que o país possa alcançar a eficiência e a competitividade necessárias para compor uma sociedade baseada em conhecimento.
No capítulo 4 do Livro Verde, intitulado “Educação na Sociedade da Informação” trata-se especialmente das diretrizes para a educação. São diretrizes mais voltadas à formação de infra-estrutura tecnológica – ponto crítico para um país com dimensões continentais e com tantas discrepâncias econômicas e sociais.
Fato importante para este artigo é ressaltar que somente infra-estrutura tecnológica não nos isenta de cuidados especiais com a formação de profissionais e de cidadãos aptos a usar seus conhecimentos em benefício da capacitação e orientação de outros tantos ainda alheios à nova realidade. “A educação é o elemento-chave na construção de uma sociedade baseada na informação, no conhecimento e no aprendizado”.(Sociedade da Informação no Brasil: livro Verde, p.45).
Educar na Sociedade da informação requer infra-estrutura tecnológica, como já foi ressaltado; mão de obra qualificada para utilizar estas ferramentas da tecnologia e das telecomunicações e métodos de ensino que proporcionem um desenvolvimento cognitivo voltado para a pesquisa, para a autonomia e para a curiosidade investigativa.
Trata-se de investir na criação de competências suficientemente amplas que lhes permitam ter uma atuação efetiva na produção de bens e serviços, tomar decisões fundamentadas no conhecimento, operar com fluência os novos meios e ferramentas em seu trabalho, bem como aplicar criativamente as novas mídias, seja em usos simples e rotineiros, seja em aplicações mais sofisticadas. Trata-se também de formar os indivíduos para “aprender a aprender”, de modo a serem capazes de lidar positivamente com a contínua e acelerada transformação da base tecnológica. (Sociedade da Informação no Brasil: livro Verde, p.45).
A autonomia no processo de aprendizado será cada vez mais um valor agregado para a formação de um cidadão e de um profissional. Não há como desvincular o aprendizado constante de todas as atividades da vida.
Esta formação demandada pela Sociedade da Informação ainda é pouco discutida pelos educadores. Há outras prioridades formando névoa diante dos olhares. Problemas com a violência nas escolas, má distribuição de recursos, remuneração e formação de educadores, distribuição das tecnologias de informação por todas as regiões do país são apenas algumas das questões que requerem atenção emergencial. Porém, isto não significa relegar a último plano a importante discussão da Educação na Sociedade da Informação. Será um problema de método ou de metodologia? Será uma questão de adequar a educação aos novos valores econômicos e culturais ou isto é modismo que nada tem haver com a forma como educamos nossos futuros cidadãos/profissionais?
Nas diretrizes do Livro para a Sociedade da Informação no Brasil, prevê-se a intensificação dos cursos de educação à distância (EAD). Uma excelente ferramenta para ampliar o acesso a educação. No entanto, é preciso considerar que para o aprendizado à distância que o indivíduo tenha capacidade de gerenciar seu aprendizado, “aprender a aprender” pesquisando e estudando de forma autônoma. Mas sabe-se que poucas pessoas tiveram a oportunidade de desenvolver esta aptidão. Sabe-se também que a maioria da população tem dificuldades de compreender as leituras que faz. São os chamados analfabetos funcionais. Até que ponto a sociedade tem proporcionado uma educação que gere autonomia no pensar?
O próximo texto deste artigo aponta a gravidade do analfabetismo funcional no Brasil e tem o problema como referência para o debate sobre a importância de se estabelecer de fato uma Educação para a Sociedade da Informação.
- Analfabetismo funcional no Brasil
O índice de alfabetismo funcional (INAF) foi criado em 1970 pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), trata-se de um indicador para verificar a qualidade da escrita e da leitura tendo em vista observar qual o potencial de uso deste conhecimento para que a população continue aprendendo, desenvolvendo suas habilidades.
Desde 1990 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsabiliza-se pela divulgação do INAF. Para calcular este índice o IBGE considera principalmente o número de séries concluídas; portanto defini-se como analfabeto funcional os brasileiros com menos de quatro anos de estudo.
A metodologia usada para medir o INAF usa testes de leitura e escrita; questionários informando inclusive sobre históricos familiares. Em 2005 foram entrevistadas 2000 pessoas na faixa etária entre 15 e 64 anos.
Os entrevistados foram distribuídos em quatro grupos conforme os resultados de seus testes. São eles:
- Analfabetos (os que não conseguiram realizar tarefas simples como decodificação de palavras e frases);
- Alfabetizados Nível 1 (os que fizeram uso precário da língua, capazes de ler títulos ou frases e localizar informações bastante explícitas no texto);
- Alfabetizados Nível 2 (os que tiveram capacidade de ler um texto curto, localizando uma informação explícita ou que exigisse uma pequena inferência);
- Alfabetizados Nível 3 (os que fizeram uso pleno da língua: lêem textos mais longos, capazes de localizar e relacionar mais de uma informação, comparar vários textos e identificar fontes).
Os resultados obtidos foram os seguintes: 7% correspondem aos classificados como analfabetos; 30% foram classificados como alfabetizados de nível 1; 36% foram classificados como alfabetizados de nível 2 e apenas 26% foram classificados como alfabetizados de nível 3.
Os resultados podem ser observados tendo como referência questões econômicas e sociais. Quanto ao gênero, pode-se concluir que o fato de as mulheres buscarem melhores oportunidades no mercado de trabalho fez com que elas aumentassem a quantidade de anos de estudo; as mulheres correspondem a 53% dos alfabetizados de nível 3. As questões de raça, ainda não mudam, indivíduos negros do sexo masculino, continuam tendo pouco acesso à educação e correspondem a 66% do total de analfabetos.
É fato que o número de pessoas que se classificam como alfabetizadas também aumentou nos últimos três anos. No entanto a qualidade desta alfabetização deve ser questionada visto que 68% da população ainda é considerada analfabeta funcional (enquadra-se nos níveis 1 e 2 de alfabetizados).
Ter mais da metade da população com esta dificuldade implica pensar que em poucos anos teremos que capacitar esta mão-de-obra para (re) adequá-la ao mercado de trabalho. Aliás, isto já é feito paliativamente em programas nacionais de qualificação profissional. É preciso incentivar o aprendizado autônomo e a educação ao longo da vida para superar esta defasagem e, mais, formar tendo em vista não apenas a alfabetização (ou reconhecimento de letras), mas formar para a busca de um auto-desenvolvimento.
Além destas questões, a alfabetização digital já não é mais a principal tônica das discussões. É também de primordial importância que o país planeje a promoção da inclusão informacional. Isto significaria dar ênfase em uma formação que envolva o desenvolvimento de habilidades de análise e interpretação da informação.
Neste artigo o contexto da discussão sobre a alfabetização digital é também um dos vieses que levam à reflexão sobre a urgência da alfabetização informacional no Brasil e essa temática vai além do aprendizado que restringe-se à operação de máquinas e softwares.
- Cenários da exclusão digital
Desde o final da década de 1990, no Brasil observa-se uma pressão sobre instituições públicas por maiores investimentos em ferramentas de Tecnologia de Informação e Comunicação (TICs) tais como softwares e computadores. Podemos citar aqui instituições como o Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dentre outros responsáveis por desenvolver pesquisas e disseminar informações fundamentais para a gestão dos recursos destinados à Educação do país.
O próprio Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI. Br) foi criado em 1995 para atender algumas das demandas do Programa para Sociedade da Informação. Mais especificamente para coordenar e integrar todas as iniciativas de serviços Internet no país. Uma dessas demandas envolve as questões da exclusão digital, seus impactos sobre o desenvolvimento social e econômico para a população.
As últimas pesquisas do CGI foram realizadas entre julho e agosto de 2006 e apontam que apenas 19,63% da população possui computadores em seus domicílios. Deste percentual, 21% pertecem às classes C, D/E. Ainda apresenta outros indicadores relacionados diretamente à Educação:
- 57,13% dos usuários usam a Internet para realizar atividades/pesquisas escolares;
- 19,86% usam a internet para fazer cursos on-line;
- 17,97% usam a internet para trocar mensagens relativas ao curso com colegas/tutor;
- 14,02% usam a internet para buscar informações sobre cursos de extensão e pós-graduação;
- Apenas 6,76% usam a Internet para fazer cursos on-line.
Tais informações demonstram o quanto ainda é preciso investir em incentivo e em recursos para que a parcela da população mais economicamente vulnerável possa ter acesso às tecnologias de informação e comunicação (TICs).
Essa abordagem pode causar algum tipo de estranhamento, pois une duas vertentes aparentemente distintas. No entanto, para a pauta das discussões traz um debate já bastante difundido por instituições como a UNESCO e IBGE. Um dos primeiros documentos publicados sobre a exclusão digital no Brasil teve coordenação de NERI (2003), intitulado “Mapa da exclusão digital” e trata das disparidades referentes ao acesso à tecnologia.
Infelizmente o cenário mudou pouco e demonstra evolução lenta se comparado com o ritmo das demandas nas empresas e no mercado de trabalho.
SORJ (2003), em “Brasil@povo.com: a luta contra a desigualdade na Sociedade da Informação” tratou de maneira abrangente das várias questões que afetam os indivíduos. Uma delas, a questão da educação e da inclusão digital:
Enquanto o uso da chamada linha branca de eletrodomésticos e do telefone, rádio e TV não exigia praticamente nenhuma formação educacional, a telemática não só supõe, no mínimo, a alfabetização do usuário, como sua utilidade potencial depende da capacidade intelectual de selecionar, analisar, compreender e avaliar a informação disponível. Embora a Internet possa influenciar a capacidade de análise do usuário, esta, em princípio, se constitui, como veremos, em boa medida fora da Internet. Enquanto para o usuário com limitada competência analítica a Internet é um instrumento de informação, para o usuário com maior capacidade analítica e de aprendizado a Internet é um instrumento de conhecimento. (SORJ, 2003, P.32)
Quais são os métodos para proporcionar à população uma formação adequada à Sociedade da Informação? Nesta sociedade, o teletrabalho, as redes de colaboração e a gestão do conhecimento não são mais meras projeções de futuro, são realidades postas e em constante processo de desenvolvimento. Este fato torna ainda mais urgente a mudança na estrutura e nas formas de ensinar estabelecidas para as escolas brasileiras.
A questão não passa apenas pelo investimento em equipamentos para as escolas. Deve-se agregar a isto, um método de ensino que priorize a formação baseada na autonomia e no desenvolvimento da capacidade de pesquisa e compartilhamento em grupos ou redes de colaboração.
- Quem quer seguir trilhos de “linhas retas” numa era de “navegação” por Oceanos de saber?
Quem vai seguir apenas o curso de um rio se pode explorar o mar? Esta metáfora é uma provocação para a reflexão sobre o porquê de muitos jovens acharem a escola desinteressante. O aprendizado pode acontecer em diversos ambientes, dos mais inusitados até os mais propícios.
No entanto, o contato com a informação sem o compromisso da imitação ou da repetição é muito mais divertido, motivador e instigante. Por isso, jovens da atualidade aprendem tanto na Internet, nos espaços de lazer, arte, cultura e esportes.
Lévy (1999), relata sobre algumas transformações que deverão afetar a educação:
- Novas formas de acesso à informação: navegação por hiperdocumentos, caça à informação através de mecanismos de pesquisa, knowbots ou agentes de software, exploração contextual através de mapas dinâmicos de dados.
- Novos estilos de raciocínio e de conhecimento, tais como a simulação, verdadeira industrialização da experiência do pensamento, que não advém nem da dedução lógica nem da indução a partir da experiência. (LÉVY, p. 157, 1999)
A palavra “curso” lembra conteúdos sendo ensinados numa dada seqüência sem espaço para investigações mais detalhadas de determinados pontos, sem direito a uma personalização conforme o olhar e a experiência do aprendiz. Assim está definido: “curso”; acessar somente o que há no “pacote de conteúdos”.
Um método menos “linear” e mais “personalizado”, ou melhor, um método mais “navegável” talvez fosse uma maneira, uma alternativa para educar na Sociedade da Informação. Proporcionar ferramentas que ajudem o aluno a utilizar sua autonomia para aprender é mais importante do que definir o que ele pode aprender. Lévy em “Cibercultura” defende a criação de novos modelos, maneiras menos arbitrárias de dar acesso ao conhecimento:
Devemos construir novos modelos do espaço dos conhecimentos. No lugar de uma representação em escalas lineares e paralelas, em pirâmides estruturadas em “níveis”, organizadas pela noção de pré-requisitos e convergindo para saberes “superiores”, a partir de agora devemos preferir a imagem de espaços de conhecimentos emergentes, abertos, contínuos, em fluxo, não lineares, se reorganizando de acordo com os objetos ou os contextos, nos quais cada um ocupa uma posição singular e evolutiva.(…) Mas o essencial se encontra em um novo estilo de pedagogia, que favorece ao mesmo tempo as aprendizagens personalizadas e a aprendizagem coletiva em rede. Nesse contexto, o professor é incentivado a tornar-se um animador da inteligência coletiva de seus grupos de alunos em vez de um fornecedor direto de conhecimentos (LÉVY, p.158, 1999)
Lévy ainda refere-se a uma outra transformação na educação que trataria de uma descentralização do conhecimento. Ou seja, o reconhecimento das experiências adquiridas através de atividades sociais e profissionais será uma alternativa para criar um conjunto de saberes não-acadêmicos, esses também estarão disponíveis aos que quiserem usufruir dele.
Lima descreveu que as “mutações em educação” vão exigir o tratamento do “imprevisível”:
Educar já não é prever as necessidades socais, mas preparar os jovens para o imprevisível. Toda idéia de treinamento a longo prazo é indébita (embora a curto prazo seja ainda a solução imediatista para um país subdesenvolvido). Ora, como se pode imaginar educação para o imprevisível? A resposta parece ser: desenvolver a capacidade de resolver problemas, o que minimiza a idéia de currículos e de programas, trocando-se a ênfase sobre os conteúdos por uma ênfase sobre as técnicas. (LIMA, p.18, 1980)
Os educadores tradicionais vão classificar tais colocações como um desrespeito aos seus programas “bem intencionados”, mas há uma falha nos programas: eles insistem em formar pessoas despreparadas para a realidade competitiva das mudanças constantes e da avalanche de informações no cotidiano.
Ainda Lévy em “O que é o Virtual” apresenta importante questão sobre a desterritorialização do texto que reflete a eminência das mudanças nos processos de aprendizado nas salas de aula:
A interpretação, isto é, a produção do sentido, doravante não remete mais exclusivamente à interioridade de uma intenção, nem a hierarquia de significações esotéricas, mas antes à apropriação sempre singular de um navegador ou de uma surfista. O sentido emerge de efeitos de pertinência locais, surge na intersecção de um plano semiótico desterritorializado e de uma trajetória de eficácia ou prazer. Não me interesso mais pelo que pensou o autor inencontrável, peço ao texto para me fazer pensar, aqui e agora. A virtualidade do texto alimenta minha inteligência em ato. (LÉVY, 1996, P.49)
“Desterritorializar” o aprendizado dando vazão à busca na infinidade de conteúdos e possibilidades de suportes nos quais estes conteúdos são encontrados. Exemplo: um texto que leva a uma música, que leva a uma gravura, que leva a um poema e que faz voltar ao texto inicial. “O navegador” ou “a surfista” têm o leme nas mãos, basta que os educadores percebam que esta autonomia deve ser dada aos seus educandos.
Neste contexto a não-linearidade representa ainda mais um desafio, o de saber quando e como promover a liberdade da pesquisa sem que isto implique em perda de foco. Tal foco está intimamente ligado às identidades, às questões locais do ambiente onde reside o aprendiz e mais, ao desenvolvimento da cidadania pela qual este aprendiz tornar-se-á profissional e agente social.
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Considerações finais
O uso da palavra “método” neste artigo teve o objetivo mais provocador que propriamente conceitual. A primeira ideia é a promoção de reflexões sobre métodos de ensino que incentivam a autonomia e o espírito investigativo nos alunos. Talvez, em detrimento de tantas dificuldades e obstáculos encontrados no cenário brasileiro, a expectativa esteja além das possibilidades de efetiva mudança. Mas há que se dar um primeiro passo, através de inovação ousada e responsável, sabendo que o objetivo principal é proporcionar às crianças, aos jovens e aos adultos uma educação condizente com seu tempo e com as demandas deste tempo.
Educar na Sociedade da Informação é ação contínua que se estende por toda a vida, não importa se serão saberes acadêmicos. O fato é que o saber e o aprendizado estão instalados nas tarefas mais corriqueiras. Por isso, é fundamental lutar contra um índice de 68% de analfabetismo funcional. Pois, para desenvolver a capacidade de “aprender a aprender” a pessoa precisará ter desenvolvido sua capacidade de ler e escrever de maneira eficiente.
A autonomia no aprendizado será vital para continuidade no mercado de trabalho. Para tanto, não é possível mais aceitar como meta a simples redução do analfabetismo ou mera operação de computadores para superar a exclusão digital. É preciso muito mais que “ler letras”, é preciso relacionar, analisar, conseguir contextualizar o saber; do contrário, estaremos relegando nossos aprendizes à condição de adestrados.
O que fazer? Desconstruir o método de ensino baseado na “linearidade” de conteúdos. Instituir formas de educar que privilegiem a pesquisa, aprendizagem coletiva, a curiosidade individual e/ou aprendizagem personalizada. Instituir a cultura e o método de ensino através da “navegação” por conteúdos conforme as necessidades e os objetivos do aprendiz. Saindo da arbitrariedade dos programas lineares.
A não-linearidade do aprendizado/ensino pode ser implementada também tendo por base a navegação na Internet e as inúmeras possibilidades que atualmente seus conteúdos proporcionam. Um aluno estudando Química na Internet pode interessar-se por História e por Física a questão aparece à medida que as perguntas vão aflorando. E tais perguntas podem ser incentivadas, assim como pode ser incentivada a investigação das possíveis respostas. Caberá ao professor/tutor respeitar esta profusão de questionamentos sabendo conduzir o(s) aluno(s) ao campo da pesquisa, inclusive em como definir se uma fonte é ou não adequada para a coleta de conteúdos, seja ela eletrônica ou não.
O método de “navegação” pelo conhecimento não está relacionado apenas aos processos de educação a distancia através da internet, ele deve ser aplicado também em processos de ensino presencial. Lidando com textos sequenciais ou hipertextos; a proposta é dar liberdade e tempo de o aprendiz despertar suas potencialidades como pesquisador. E ao professor é dado o papel de “animador”, “gerente de pesquisa”, “estimulador de busca” e “coordenador de resultados”.
Portanto, ao novo professor cabe o papel de tutoria ou coordenação de pesquisas dos aprendizes ajudando-os a “navegar” através das informações em variados suportes. De acordo com as palavras de FREIRE (1996) em “Pedagogia da Autonomia”:
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. (FREIRE, 1996, p. 29)
Dessa forma, deve-se refletir: se o próprio Paulo Freire já havia tanto sinalizado sobre a importância da pesquisa (mesmo antes do advento da Internet!), porque ainda observa-se este quadro estático da educação brasileira? O conceito de não-linearidade deve ser incluído como processo que predispõe formar para as realidades da Sociedade da Informação. Sendo este processo independente de ferramentas de tecnologia ou de práticas que coloquem em destaque apenas o uso operacional de hardwares ou softwares. Agora é tempo de se colocar em evidência o potencial humano que nada tem de linear.
Referências
ALVES, Rubem.A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir Campinas: Papirus Editora, 2001.
Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI. Br) – http://www.cgi.br/sobre-cg/index.htm
FIGUEIRA, Mara. Brasil, um país de analfabetos. DIGA LÁ/SENAC – Revista do Agente de formação profissional, Rio de Janeiro, n.45, p.2-5, out./nov./dez. 2005.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (Coleção Leitura).
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – http://www.ibge.gov.br
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) – http://www.inep.gov.br
Instituto Paulo Montenegro/Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF) –http://www.ipm.org.br/ipmb_pagina.php?mpg=4.06.00.00.00&ver=por
LÉVY, Pierre. O que é o Virtual. São Paulo: Editora 34, 1996. (Coleção TRANS)
__________. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. Capítulo X – A nova relação com o saber, p.157-167. (Coleção TRANS)
LIMA, Lauro de Oliveira. Mutações em educação segundo McLuhan. Petrópolis: Vozes, 1980.
MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos & BEHRENS, Marilda. Novas tecnologias e mediação pedagógica. São Paulo: Papirus, 2000.
Ministério da Educação – http://www.mec.gov.br
NERI, Marcelo Cortês. Mapa da exclusão digital. Rio de Janeiro:FGV/IBRE, 2003. Acessível em: http://www2.fgv.br/ibre/cps/mapa_exclusao/Inicio.htm
SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO NO BRASIL, Livro Verde./ Org. Tadão Takahashi. Brasília: Ministério de Ciência e Tecnologia, 2000.
SORJ, Bernardo. brasil@povo.com: a luta contra a desigualdade na Sociedade da Informação. – Rio de Janeiro : Jorge Zahar ED. ; Brasília, DF: Unesco, 2003.
UNESCO BRASIL – http://www.unesco.org.br
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