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Curadoria de Conteúdo para Professores

A Curadoria de conteúdo, além de ser uma estratégia de marketing digital para aumentar a audiência e atrair engajamento, é uma ferramenta de formação técnica e profissional para Instruir os nossos nativos digitais e levá-los às coleções de conteúdo que possam lhes agregar mais conhecimento.

O colecionador de conteúdos, geralmente faz para si a seleção de conteúdos e, por vezes, poderá vir a fazer coleções compartilhadas para seus seguidores  (funcionários, alunos, orientandos) – grupos que terão a tarefa de consumir este conteúdo selecionado de várias formas, dentre elas:

a) formar opinião/conhecimento – ANÁLISE + INSIGHT;
b) Criar novos conteúdos – REFERÊNCIA;
c) Compartilhar e comentar – ENGAJAR;
d) Curtir ou desaprovado – FORMAÇÃO DE AUDIÊNCIA.

O relacionamento com a audiência a partir de coleções de conteúdo é base satisfatória para a progressão de pautas com substância, consistência intelectual
para a abertura de debates.

Este tipo de repertório em uma sala de aulas é bem vindo pois desperta nos alunos características imprescindíveis para o aprendizado, são elas:

a) Curiosidade;
b) Busca/Pesquisa;
c) Comparação/Análise;
d) Usos de palavras-chave/Hagtags;
e) Elaboração de discursos.

Ou seja, uma metodologia de ensino que apresenta à classe um universo de conteúdos para absorver e sintetizar e organizar por meio de palavras-chave.

Trata-se de um desafio e pode ser bastante promissor se a plataforma de curadoria de conteúdo oferecer ferramentas suficientes para aguçar não apenas o colecionismo, como também, despertar o perfil curador de cada aluno.

Um professor que queira lidar com a curadoria de conteúdo como metodologia de ensino deve pensar em médio e longo prazo, portanto, trabalhar no mínimo quatro meses com a análise e seleção de conteúdos para ajudar os nativos digitais a terem uma visão crítica das questões.

A metodologia pode se limitar ao acesso e análise de conteúdos da coleção organizada pelo professor. Fazendo referência por meio de compartilhamento via hagtags em redes sociais.

O começo pode parecer um pouco desgastante mas o final reserva surpresas gratificantes!

Quanto ao meu relato pessoal, como aluna e instrutora, aprendi a gostar da curadoria de conteúdo praticando diariamente. Acrescento uma dose extra de literaturas para abrirmos a mente à organização de conteúdos e para a pesquisa; cito abaixo nas referências literárias e audiovisuais.  São referências para nativos digitais!

REFERÊNCIAS

COSMOS: Uma odisséia no espaço. baseado na série apresentada por Carl Sagan em 1980. Apresentada pelo astrofísico e dramaturgo Neil deGrasse Tyson. Série Netflix.

HOMERO. Odisséia. São Paulo: Cultrix, 2006. 296p.

ROSA, João Guimarães, 1908-1967.
Grande sertão : veredas – “O diabo na rua, no meio do redemoinho…” / João Guimarães Rosa. — 22a ed. — São Paulo :
Companhia das Letras, 2019. (Disponível em PDF no site da Editora)

Outras referências que confirmo indicação de leitura completar e imersiva no meu blog ESSE EU LI no WordPress. Link: https://esseeuli.wordpress.com/

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Ervas daninhas nas Redes Sociais


O problema das redes sociais que pode realmente estar travando sua audiência e o resultado do engajamento de seu público é a “malandragem” de certos usuários mal intencionados que absorvem público e audiência de outros por meio de golpes cibernéticos e envio de spys, pishing e malweare.

É pura perversão mas muitos hackers praticam maldades ou “trambiques digitais” com a intenção de ganharem fácil notoriedade e visibilidade nas redes sociais.

A primeira regra é simples; entenda o sistema de segurança do aplicativo que está usando e aplique as opções de segurança que você possa dominar. Algumas delas são conhecidas como: verificação em duas etapas, autenticação por meio de notificações enviadas por SMS, e-mail ou código de acesso.

As dicas que vou apresentar a seguir servirão de checklist para sua análise de erros e travas que possam estar prejudicando seu desempenho e resultados nas redes sociais.

A primeira coisa a ser explicada é que sua rede social é como um documento pessoal, não pode cair em mãos erradas pois isso a colocaria em grande risco, fora a chateação que tudo isso causa, né?!

Então, nada de compartilhar senhas e nada de usar computadores, celulares, tablets de terceiros para acessar sua rede social ou email pessoal. É sempre um risco de perda de informações preciosas. Cuidado!

O problema da “audiência podre” é  que muitos de seus “seguidores” ou “amigos” podem não ser usuários legítimos e sim robôs trolls, “sugadores de tráfego”, neste caso, você está numa encrenca daquelas pois é possível que tenha que rever a segurança da informação de todos pontos chave do seu ecossistema de Marketing Digital, como por exemplo:

a) Senhas de todos os emails;
b) Senhas de todas as redes sociais;
c) relacionamento com usuários e grau de acesso deles às suas informações;
d) evitar liberar publicações de estranhos na sua timeline;
e) evitar que dispositivos estranhos acessem sua rede social.
f) saber se seu celular não foi clonado, hackeado ou espionado por meio de outras contas conectadas à agenda do seu aparelho de celular;
g) caso seu celular tenha sido clonado, trocar imediatamente o chip, a operadora e o aparelho.
h) veja se o dispositivo que aparece nas configurações de segurança e login é realmente o seu dispositivo e se está corretamente localizado no mapa geográfico.
i) fazer boletim de ocorrência policial em caso de identificar a clonagem ou invasão de rede de Wi-Fi.

Agora, se o ladrão estiver dentro da sua casa, torna-se impossível manter a segurança de dados. O que ocorre quando toda a família usa a rede e os hábitos de prevenção e segurança são difíceis de controlar pois os usuários têm suas limitações para perceberem os perigos. [Sugiro ir morar sozinho com seu Wi-Fi… kkk]

Muito cuidado com os emails e ligações de captura de rede que tomam controle de seus dados ou identidade este é o golpe de telecomunicações mais difícil de ser percebido pois as pessoas atendem telefonemas e respondem emails instintivamente.

Trabalhei três anos numa empresa de telecomunicações e sinto muito informar que o ódio telecom é pérfido e altamente destrutivo, inclusive para eles mesmos: os Engenheiros de Telecomunicações!!! 

Verifique se seus amigos continuam conectados aos perfis com fotos deles, é importante avisar a todos em caso de furto de celulares e outros dispositivos.

O rigor das exigências é compreensível pelo grau de crueldade dos hackers. Eles são abusivos, sugadores de energia psíquica e geradores de estresse e raiva. Também são causadores de grandes estragos financeiros.

O hacker não se importa que o usuário fique deprimido por perder contato com os amigos. Apenas mata a rede de comunicação da vítima e sai ileso sem ser identificado. É uma perversão!

Geralmente são seus concorrentes ou inimigos pessoais mas não vale a pena saber quem são, apenas livre-se das armadilhas deles!

Então, sabendo de tudo isso, cuide do seu jardim!!! 

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Linguagem, conhecimento, tecnologia e cidadania: Atuação do sujeito consciente

Ana Paula Sena de Almeida – Texto para disciplina de Introdução à Economia – Curso de Ciência da Informação PUC Minas, Primeiro semestre 2001, Professora: Eleonora Bastos Horta.

Este texto pretende resgatar o conceito de cidadania e consciência observando o contexto contraditório nos fatos e ideologias desde as comunidades primitivas até a sociedade contemporânea.

Iniciaremos nossa trajetória fazendo alusão aos homo-habilis, nossos antepassados. Os inventores do machado, a primeira e revolucionária tecnologia instalada na sociedade dos homens primitivos. Segundo Burke J. e Ornstein no livro “O presente do fazedor de machados: os dois gumes da cultura humana”. O advento do machado pode ter sido o primeiro à dar início a divisão do trabalho nas comunidades dos habilis. E ainda nesta obra encontramos a seguinte citação:

“(…) Graças às novas técnicas de triturar e moer alimentos, já não eram necessários dentes grandes acompanhados de fortes músculos nas mandíbulas e ossos de fixação, que por isso se tornaram menores. Este aligeiramento dos ossos do crânio teve como efeito abrir espaço para a expansão do cérebro, e deve ter sido por isso que a fala pôde se desenvolver. A língua também se tornou mais flexível, o que, junto as demais características físicas, reforçou a capacidade de produzir sons vocais mais sutilmente controláveis.” (BURKE, J e ORNSTEIN. O presente do fazedor de machados; os dois gumes da cultura humana. Sem paginação e sem data e local – Cap. 1 e 2, p.1-86)

A partir desta mutação física, o homo-habilis institui a mais fantástica ferramenta social: a comunicação verbal, a linguagem, seus signos e sentidos. É importante dizer que a linguagem é uma herança destes antepassados tão distantes.

Evidentemente que ela, a linguagem, sofreu diversas modificações ao longo das eras. As mudanças, muitas vezes, vieram do próprio ato da fala, devido às associações acidentais de sentido provocadas pelos falantes. Mas toda esta retrospectiva não nos serve apenas como informação figurativa. Muito ao contrário, com esta volta ao passado devemos observar de que ponto viemos e a qual ponto podemos ou não desejamos chegar. Somos em nossa essência animais. Por sorte ou por dádiva da natureza sofremos mutações orgânicas que nos proporcionaram um lobo frontal mais desenvolvido que os dos demais animais. O que isto significa? O lobo frontal é a região do cérebro responsável pela captação de informações armazenadas no córtex.

Seria como um decodificador, um “aparelhinho” em nosso cérebro que consegue associar o que vemos, ouvimos ou sentimos com informações guardadas na memória. Por causa desta vantagem biológica o homem pôde desenvolver sistemas de comunicação desde os mais rudimentares até os mais avançados.

O Presente do Fazedor de Machados: Os dois gumes da história da Cultura Humana – James Burke & Robert Ornstein

“Deu o branco: os segredos da mente”, tema de uma reportagem da revista Superinteressante de agosto/2000 mostra que a capacidade de armazenamento e recuperação das informações está intimamente ligada à capacidade de utilização da linguagem. Portanto, quando há dificuldades de compreensão e uso da língua, há dificuldade de associar, de criticar, de criar e de participar, interagir com o meio.

Graciliano Ramos em sua obra “Vidas Secas” retrata o que seria na prática um homem excluído do seu potencial de uso da fala com a personagem “Fabiano”:

“Às vezes utilizava nas relações com as pessoas a mesma língua com que se dirigia aos brutos – exclamações, onomatopeias. Na verdade, falava pouco. Admirava as palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas, em vão, mas sabia que elas eram inúteis e talvez perigosas.” (RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 45 ed. Rio de Janeiro, Record, 1980. p. 17-20)

A partir deste ponto podemos compreender que a linguagem utilizada para interagir, tornar comum o conhecimento também é utilizada como elemento de exclusão e de marginalização daqueles que não a dominam efetivamente.

Conquistamos os meios tecnológicos, construímos metrópoles e pulverizamos o planeta com as mais diversas formas de linguagem, no entanto, boa parte da população dos países em desenvolvimento ainda não compreendem um terço das palavras contidas em suas línguas vernáculas. Hoje, a divisão social e do trabalho não se dá pelo machado, mas pelo domínio da linguagem e das informações transmitidas também, “sociedade da alienação”? Pois é somente a partir da alienação e da falta de recursos financeiros de muitos, que alguns poderão usufruir da tecnologia, dos bens e do consumo e, do conhecimento (atualmente também uma mercadoria). Esta seria a lógica capitalista da acumulação. Para que alguns possam usufruir do conforto dos bens de consumo, outros tem que ser sacrificados, ficando à margem ou usufruindo de bens de consumo inferiores. No caso do que chamamos “sociedade da alienação” a questão é a existência de um sistema que oferece tecnologia, funcionalidade e conforto somente a uma pequena parcela da população mundial. A alienação se dá, também, no meio dos “info-ricos” é o ato de indicar a tecnologia apenas como meio de conforto e de praticidade ignorando-se que esta mesma tecnologia tornou-se um meio de exclusão.

Esta é a engrenagem da ideologia de acumulação do capital. Se todos podem ter, não justifica que haja desejo, avidez de outros também possuírem seja lá o que for. Logo, o capitalismo, a tecnologia como um sistema econômico e a chamada sociedade do conhecimento se baseiam na necessidade de exclusão de alguns para o benefício de outros. Não se trata de uma retomada da Teoria da Luta de Classes escrita por Marx, mas uma observação ao que estamos repetindo desde os tempos primitivos, onde aqueles que conheciam um pouco sobre os fenômenos da natureza e das técnicas agrícolas podiam dar-se ao luxo de comer fartamente sem ter que ajudar nas lavouras.

O homem resiste à ideia de ser, de fato, um animal com características diferentes ou vantagens em relação aos animais das outras espécies, talvez assim ele esteja esquecendo-se cada vez mais que subjuga e mata os da sua própria espécie.

A lógica capitalista é corrosiva quando levamos em conta que vivemos num planeta de recursos não renováveis como solo, água e ar. No livro “O mito do desenvolvimento econômico” de Celso Furtado encontramos a seguinte informação:

“… que acontecerá se o ‘desenvolvimento econômico’, para o qual estão sendo mobilizados todos os povos da terra, chegar efetivamente a concretizar-se, isto é, se as atuais formas de vida, dos povos ricos chegarem efetivamente a universalizar-se? A resposta a essa pergunta é clara, sem ambiguidades: se tal acontecesse, a pressão sobre os recursos não renováveis e a poluição do meio ambiente seriam de tal ordem (ou, relativamente, o custo do controle da poluição seria tão elevada) que o sistema econômico mundial entrariam necessariamente em colapso.”  (FURTADO. Celso. O mito do desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. (Coleção Cultura). p. 89)

Longe de fazer menção às previsões catastróficas ou a um futuro obscuro, na verdade, o objetivo deste texto é fazer uma proposta de atuação dos cidadãos desta sociedade com nome e estrutura ainda velha. É óbvio que não poderíamos de uma hora para outra mudar o sistema capitalista par um outros qualquer. Mas é possível subverter esta ordem excludente com pequenas e contínuas ações. Pierre Lévy fala das comunidades de inteligência coletiva, em seus livros “O que é o Virtual” e “Cibercultura”. A partir de ferramentas da comunicação on-line e off-line pode-se e deve-se multiplicar canais em que a educação seja objetivo central.

É preciso compreender que esta diferença social instalada em nossa sociedade é também o que pode nos livrar da total degradação do ambiente. O que devemos focar, portanto, é a dignidade das pessoas. Seja nas comunidades agrícolas, nas grandes cidades, nas favelas e nos vilarejos.  Podemos tirar um exemplo bastante atual neste caso, que seria o da Rocinha, maior favela da América Latina situada no Rio de Janeiro. Lá há tráfico, há pobreza, há diferenças sociais? Sim. Mas a Rocinha é hoje dignificada por uma identidade coletiva, com suas rádios comunitárias, com seus artistas e políticos locais que, aos poucos, vêm mudando até mesmo o conceito da palavra “favela”. É um processo gradual, onde há o despertar das massas. É valorizando o indivíduo que conseguimos despertar-lhe o interesse pelos fatos da vida.

Não submetendo a um estereótipo, a uma identidade falseada e manipulada.

Sabemos que não é viável a riqueza e a acumulação de bens de consumo para todas as camadas sociais devido à perversa lógica capitalista. Mas precisamos buscar urgentemente a acessibilidade de todos os benefícios da tecnologia na saúde, na educação e na sobrevivência digna e participativa. O que não podemos mais é conceber a ideia de que somos apenas engrenagens em função de um sistema econômico. Quando o correto seria que este sistema estivesse em função dos indivíduos.

É preciso nos debruçarmos sobre o conceito de cidadania e consciência coletiva. O que estes termos significarão no futuro? Talvez tudo! É a partir da cidadania e da consciência coletiva que evitaremos ação anti-éticas com relação ao Projeto Genoma ou com relação à Globalização das Economias. Os profissionais de Ciência da Informação tem em mãos a responsabilidade na gestão de negócios e de projetos relacionados à sensível estrutura da Sociedade da Informação e do Conhecimento.

É imprescindível que além dos investimentos em tecnologia e ciência, saibamos dar maior espaço às ações que promovem o pensar coletivo, a busca por dignidade, por justiça e por uma política econômica menos destrutiva e excludente.

Partindo para uma prática do que Pierre Lévy chama de comunidades das inteligências coletivas, promover a comunicação e a troca de informações entre grupos interessados em ações sociais, defesa do consumidor, defesa do menor carente, informação e formação do cidadão e eleitor, defesa do meio ambiente. Todas as essas “paixões” defendidas de forma objetiva e organizada podem trazer as mudanças necessárias da nossa e das sociedades futuras.

Atualmente, podemos supor (baseando-nos em fatos científicos) a colonização da Lua e de Marte. Porém, vejamos se não estamos apenas repetindo em maior grau o que nossos antepassados nômades faziam; quando acabavam os recursos naturais num lugar, juntavam as tralhas e mudavam-se para outro. Ali, repetiam o mesmo ato meses depois. Realmente seria lamentável pensar que os humanos são nômades dentro desta galáxia. Não podemos esperar a total degradação do que possuímos hoje, para depois tomarmos atitudes sólidas. Àqueles que estão ansiosos por não saberem com o que trabalhar ou o que fazer para serem mais úteis enquanto seres produtivos, apresentamos uma dica: a nova sociedade da informação precisa de grupos de trabalho objetivando a implementação em larga escala do conhecido conceito “qualidade de vida”.

Referências Bibliográficas:

ALVES, Rubem. A gestação do futuro; tradução de João-Francisco Duarte Júnior. 2 ed. Campinas, SP: Papirus, 1987.

LE COADIC, Yves François. A Ciência da Informação. tradução de Maria Yêda F. S. de Filgueiras Gomes. Brasília: Briquet de Lemos, 1996

LÉVY, Pierre. Cibercultura; tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Ed. 34, 1999. 264 p.

LÉVY, Pierre. O que é o Virtual?; tradução de Paulo Neves. São Paulo: Ed. 34, 1996. 160 p.

LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 4.
ed. São Paulo: Loyola, 2003.

RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 45 ed. Rio de Janeiro, Record, 1980. p. 17-20.

SUPERINTERESSANTE – Deu Branco? Os segredos da mente – agosto de 2000. p. 49-54.

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A Fonte

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A Fonte
Ana Almeida*

Até agora, limitei-me em relatar sobre algumas impressões e situações do meu cotidiano que me trouxeram até esta jornada de busca do conhecimento.
No texto “O Fruto da Sabedoria” quis esclarecer o que me levou ao esquema que trata sobre os graus da informação que poderiam nos levar até o “psiquismo integral”; tema defendido por Pierre Lévy em seu livro “O que é o Virtual” – e, sobre o qual faço referência em alguns textos deste blog.

Evidentemente que estou relatando a minha própria jornada e, a partir dela, quero compartilhar possíveis pontos em comum com os colegas que se interessam pelo assunto.

Sou uma profissional da informação e amo esta profissão que, como muitos sabem, não traz gratificações em forma de fama ou celebridade mas nos torna responsáveis pelos registros, pela manutenção e organização da biblioteca (física ou digital) e nos torna também responsáveis pela recuperação destes acervos para os que se ocuparem deles.
Como uma amante e profissional da informação – sem deturpação dos significados expressos na frase anterior! – sei bem que deveria inscrever estes trabalhos como projetos acadêmicos ou trabalhos científicos. No entanto, preciso confessar aos meus pouquíssimos leitores que os conhecimentos dos quais estou falando neste blog são tão milenares e populares que só teria o trabalho de repetir outras histórias já tão difundidas na internet.

Enfim, quando um pesquisador se arvora em dissertar sobre “o conhecimento” – o que já é uma ousadia – deve ter por referência tratados milenares relativos à pré-história, a história, a cultura e a ciência. As tecnologias que desenvolveram-se depois destes passeios na linha do tempo, podem ser um substrato do que pretendemos chamar “conhecimento”.

Somos seres humanos experimentando a consciência e por meio de processos bioquímicos em nossos DNA´s podemos experimentar a expansão de certos atributos psíquicos por meio do acesso à informação. Esse fenômeno não é estritamente religioso, nem unicamente intelectual. Pode-se imaginá-lo espiritual, porém não temos indícios suficientes para compreendê-lo desta maneira perante os métodos científicos que conhecemos.

O que nos faz acreditar numa evolução como o “Trans-humanismo” ou a evolução por meio de mutação e manipulação genética, já nos foi dado há séculos. Tratamos dessas evoluções da consciência em vários grupos e culturas com nomes diferentes tais como: Merkabah, Evolução Espiritual, Meditação Transcendental, Psiquismo, etc.

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O fato de sermos corpos biológicos que podem funcionar como máquinas de processamento de informação e energia é conhecido e registrado pela ciência há séculos.

Portanto, o percurso psíquico que cada ser humano faz para alcançar o psiquismo é que é singular e intransferível porque a consciência é individual mesmo quando o percurso é igual para dois, três ou mais.

O ato de compartilhar é um exercício que enriquece, não apenas a própria experiência, como também pode ajudar outros.

As lições que a Ciência da Informação têm dentro desses estudos nos colocam no campo da Comunicação que se torna um gerador de “energia” vital. A palavra escrita é um projetor de energia. Cada sílaba, cada letra têm uma frequência e, unidas, formam outras frequências energéticas. Textos , tratados sobre “O poder do Verbo” há séculos já nos ensinavam sobre esta questão.

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E, nós ainda não absorvemos este viés do conhecimento sobre o poder da palavra. Somos aprendizes negligentes, pouco atentos aos detalhes.

Sendo assim, todos somos fonte. Fonte de conteúdos que se organizam em forma de palavras escritas, faladas, expressas em nossas faces e gestos – arquivados em nossos celulares, computadores, perfis de redes sociais, agendas e diários e até faturas de cartões de crédito.

Agora, somos chamados ao longo processo de “iniciação” ou educação de nossos poderes de comunicação. Quando ultrapassarmos os limites do que esperamos que seja a Sociedade do Conhecimento, teremos que ter domínio sobre certos efeitos causados por esta “energia” que propagamos.

Por isso, o conhecimento nos exigirá a cada novo dia, algo mais, algo que jamais imaginávamos oferecer uns aos outros.

A combinação rápida, ou seja a síntese bem apurada, de tudo que sabemos, a intuição, a percepção aguçada do TODO. Isso só será possível com nossas conexões pessoais e sensíveis

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REFERÊNCIAS NOS HIPERTEXTOS DO BLOG! 😉 

 

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Primeiras notas sobre Biotecnologia e Psiquismo: quem é você e quem eu sou?

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Caso algum dia tenhamos uma versão virtual de nossas almas, será crucial a compreensão do que nos define, do que representa nossa individualidade e o que nos conecta em prol do trabalho coletivo para a sobrevivência, não mais da espécie, mas para a permanência do espírito que a rege. Para visitar outros mundos, sobreviver em Marte e talvez fazer viagens através do espaço, seremos capazes de abrir mão desses corpos de carne sustentados por ossos afim de aderir a corpos menos densos, feitos basicamente de dados?

Ao chegar às primeiras conclusões sobre as forças do intelecto, no De emen­datione,1 Espinosa escreve que, “para nada omitir do que pode conduzir” ao co­nhecimento delas, é preciso ensinar “um pouco sobre a memória e o esquecimen­to”, explicando que a primeira pode ser reforçada “com o socorro do intelecto e também sem o socorro do intelecto”. No primeiro caso, o auxílio é trazido pela própria inteligibilidade da coisa — res magis est intelligibilis —, enquanto no segun­do, o amparo vem da imaginação, conforme a força com a qual esta é afetada por alguma coisa singular corporal — ab aliqua re singulari corporea. Imediatamente, Espinosa esclarece: “Digo singular: a imaginação é, com efeito, afetada somente pelas coisas singulares […]. Digo também corporais: porque a imaginação é afe­tada apenas pelos corpos”.2 (CHAUÍ, Marilena. A nervura do real: imanência e liberdade em Espinosa, vo­lume II. /A essência particular afirmativa. 2016. p.16-17)

E o que vem a ser este psiquismo que nos diferencia mas também nos aproxima possibilitando conexões com o todo?

A imagem que acabamos de traçar da inteligência viva ou do psiquismo é, identicamente, a do virtual. Por natureza, e embora esteja sempre conectado a seu corpo, o sujeito afetivo se desdobra para fora do espaço físico. Desterritorializado, desterritorializante, ele existe, isto é, cresce de fato para além do “aí”. O psiquismo, por construção, transforma o exterior em interior (o lado de dentro é uma dobra do lado de fora) e vice-versa, uma vez que o mundo percebido sempre mergulhado no elemento do afeto. (LÉVY, Pierre. O que é virtual? 1996. p.108)

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Assista ao trailer do filme.

“O que nos define não são nossas memórias mas sim nossas ações”

E o que define nossas ações? Em segundos nos quais decidimos ou fazemos escolhas por nossos atos, quais são os “arquivos “cognitivos ou afetivos que interferem em nossas ações?

A virtualidade não tem absolutamente nada a ver com aquilo que a televisão mostra sobre ela. Não se trata de modo algum de um mundo falso ou imaginário. Ao contrário, a virtualização é a dinâmica mesma do mundo comum, é aquilo através do qual compartilhamos uma realidade. (LÉVY, Pierre. O que é virtual? 1996. p.148)

Ao fim da IV Revolução Industrial, depois de todos os nossos erros e acertos para desenvolver o “Data-Humanoide”, talvez cheguemos à conclusão que nosso primeiro modelo – feito de carne, osso, alma e espírito – fosse um magnífico modelo desenvolvido pela ciência divina. Será que a verdade está lá fora???

Melhor não jogar a criança fora junto com a água do banho. 😉

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Referências:

A Vigilante do Amanhã – Ghost in the Shell: Baseada na internacionalmente aclamada ficção científica “Ghost In The Shell” é a história de Major, uma máquina de combate, ciborgue-humana-híbrido, única de sua espécie, que líder a unidade de inteligência de elite: Sessão 9. Dedicados a capturar os criminosos mais perigosos e extremistas, a Sessão 9 é confrontada com um inimigo que tem como único objetivo acabar com os avanços tecnológicos da Hanka Robotic. – Paramount Pictures Brasil/ Fonte: Canal Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=–DYzP4RjEA

CHAUÍ, Marilena. A nervura do real: imanência e liberdade em Espinosa, vo­lume II: Liberdade / Marilena Chaui. – 1a ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

LÉVY, Pierre. O que é virtual? /Pierre Lévy; tradução de Paulo Neves. – São Paulo: Ed. 34, 1996.

MORACE, Francesco. 1959 – O que é Futuro?/ Francesco Morace; trad. Simone Bueno da Silva. – São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2013.

MORIN, Edgar, 1921 – Rumo ao abismo?: ensaio sobre o destino da humanidade/Edgar Morin; tradução Edgar de Assis Carvalho, Maria Perassi Bosco. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.

TARGA, D.C. Leibniz, o individual e suas fissuras. Florianópolis, 2009. 140 p. Dissertação (Mestrado em filosofia) – [Leibniz, the individual e his clefts]. Departamento de Filosofia, Centro de filosofia e ciências humanas, Universidade Federal de Santa Catarina.

 

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Reflexões sobre a Individualidade, conforme LEITURA II – Spinoza

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Ainda refletindo o olhar MACROCÓSMICO SOBRE A INDIVIDUALIDADE, conforme a citação:

Podemos evocar neste ponto a maneira como Gilles Deleuze diz que toma emprestado de Duns Scoto uma distinção elaborada na Idade Média, para tentar estudar uma forma de individuação da essência modal, individuação de ordem intensiva, que não exige pensar as essências das coisas singulares da mesma maneira que as coisas existentes, quer dizer, como partes exteriores umas das outras.

Não podemos distinguir as coisas existentes senão na medida em que suas essências são supostas distintas; da mesma maneira, toda distinção prévia. Por isso é provável que uma essência de modo correspondente não existe. Mas como? Voltemos a Duns Scoto: a brancura, diz ele, tem intensidade variáveis: elas não são acrescentadas à brancura como coisa a outra coisa, como uma figura se une a um muro sobre o qual é traçada; os graus de intensidade são determinações intrínsecas, modos intrínsecos da brancura, que permanece univocamente a mesma sob qualquer modalidade que seja considerada. (Deleuze. Spinoza et le problème de l´expression. Paris: De Minuit, 1973, p. 179)

A tonalidade do branco só é vista a partir da união dos pontos por polegada. Vários tons de branco poderão ser encontrados a partir de pontos de vista diferentes. A individualidade não interfere na totalidade do branco mas ela se faz necessária para compor diferentes resultados do todo.

Do infinito ao indivíduo, o ser da substância se exprime na potência singular como potência do múltiplo.

Há uma sincronicidade orgânica/eletromagnética, entre os corpos-substância e ela não se sobrepõe à individualidade mas a complementa, tornando-a potência conforme as combinações entre os corpos.

Tais corpos formam as partes componentes, abstratamente isoladas, dos indivíduos, apresentando propriedades comuns mínimas e, portanto, poucos traços distintos. Inversamente, pode-se adiantar que a única realidade concreta é o indivíduo, corpo composto de uma infinidade de corpos.

Atuando sobre os corpos as leis DO TEMPO, DO ESPAÇO E O ELETROMAGNETISMO. AINDA HÁ LEIS SOBRE ELES QUE DESCONHECEMOS, AS LEIS QUE SE REFEREM AO ATRITO ENTRE OS CORPOS INFORMACIONAIS. (MEMÓRIA, COMUNICAÇÃO, LINGUAGEM E ACOPLAMENTO DE CONSCIÊNCIAS) – Outra Referência: MATURANA – A ÁRVORE DO CONHECIMENTO (2001. 8ª. Ed. De 2010).

De fato, as relações mecânicas entre os modos da extensão provocam uma composição dos corpos. Há assim uma continuidade entre os corpos simples e os corpos compostos, mesmo se os corpos compostos podem distinguir-se uns dos outros segundo uma relação de proporção entre o movimento e o repouso, a velocidade ou a lentidão. Também quanto mais um corpo é composto, mais está em condições de distinguir-se, em numerosos aspectos, dos outros corpos. O próprio corpo humano é um corpo composto. A sua originalidade e sua riqueza respondem aos caracteres gerais dos corpos compostos, mesmo se o corpo humano é, como tal, particularmente complexo, tanto em matéria de composição como de integração, quer dizer, de síntese entre suas partes.

A sincronicidade entre os corpos não depende da fisicalidade deles, está além da velocidade que cada um dos corpos imprime no espaço. O que os conecta é a COMUNICAÇÃO entre eles. Há uma dança no espaço e eles não pisam os pés dos parceiros (risos).

Quando um certo número de corpos da mesma ou de diversas grandezas sofrem da parte dos outros corpos uma pressão a aplicar-se uns sobre os outros; ou, se eles se movem com o mesmo grau ou com graus diferentes de rapidez, de tal maneira que comunicam os seus movimentos entre si segundo uma relação constante, diremos que esses corpos estão unidos entre si e que, em conjunto, formam todos um corpo, isto é, um indivíduo que se distingue dos outros por essa união de corpos. (Ética, II prop. 13, definição após o axioma 2).

Aproximação e distanciamento eletromagnético. Frequência e vibração energética representam as pressões do ambiente, assim como a relação entre os corpos celestes em movimento no espaço.

Spinoza deduz duas leis complementares da formação do indivíduo. De um lado, a coação exterior (a “pressão do ambiente”), que impõe aos corpos uma certa relação;

SINCRONIA. TEMPO E ESPAÇO – ALÉM FISICALIDADE/” interioridade”. COMUNICAÇÃO CONSTANTE.

Mas esta invariância se diversifica numa série mais ou menos rica de relações constantes, que podem estabelecer-se entre as partes do indivíduo, de tal maneira que essas partes se comuniquem o movimento sem prejudicar a unidade do conjunto.

Assim, fica claro que a identidade individual não pode ser concebida fora das relações que o indivíduo é suscetível de manter com o mundo exterior. O indivíduo, de fato, é inteiramente constituído pelas relações exteriores que se estabelecem entre os modos da matéria; em si mesmo ele é uma composição de corpos que vai ao infinito, sem que em parte alguma uma “interioridade” possa ser descoberta.

Leis de Kepler sobre as órbitas dos corpos celestes. Como e porque eles não colidem.

(…) que o indivíduo é igualmente uma essência, atualizada pela relação entre as coisas finitas: essa essência própria age como tendência a perseverar no ser e a resistir àquilo que tende a destruir o indivíduo. (Ética, II, prop. 6 e 7).

A INDIVIDUALIDADE COMO NÚCLEO – UNIDADE DA SUBSTÂNCIA. Capacidade de se dividir e regenerar. Capacidade do indivíduo de ser um e de ser vários corpos em constante comunicação recíproca.

Quais são, todavia, as mudanças que o indivíduo pode suportar sem ser destruído? Os lemas 4 a 7 descrevem as variações que não afetam a identidade do indivíduo, enquanto essas modificações ficam compreendidas na proporção de movimento e de repouso, que definem a estrutura invariante de seu ser. A regeneração mostra que, se os corpos exteriores substituem as partes que se separaram do indivíduo, este mantém a sua unidade.

A relação entre os conjuntos compostos é também uma das formas através das quais pode-se analisar a relação entre os corpos informacionais no ciberespaço. A forma como a individualidade determina a complexidade destes conjuntos compostos ainda precisa ser analisada e devem ser conhecidas suas implicações.

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LEITURAS II – Filosofia / Spinoza

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(…)

Isto quer dizer que o indivíduo deve ser compreendido como uma realidade composta, que é explicado às vezes segundo as relações mecânicas da matéria e como a afirmação de uma potência de ser. E é por esta razão que esse mesmo indivíduo, desde que é produzido por leis mecânicas sob a relação de composição que caracteriza, tende a perseverar na existência em virtude da força causal de sua própria essência. Uma tal força de expressão, nesse ser singular, da causalidade do infinito, imanente a todas as coisas.

Fica claro, pois que, se o indivíduo possui uma essência própria, a existência em ato desse mesmo indivíduo tem por condição uma relação determinada entre os corpos. Esta relação se constitui em função das leis da matéria. Não se trata, pois, de evocar, à maneira de Leibniz, uma tendência da essência, considerada como um possível, a passar para existência; no entanto, já existe uma certa união de corpos, em razão de causas transitivas que afetam os modos da extensão, a essência do indivíduo em questão se exprime na existência como uma essência atuante, pela qual o indivíduo tende a perseverar no ser e, como veremos mais adiante, a aumentar sua potência de agir. Nem por isso se deve imaginar uma espécie de dualidade entre a essência do modo, que é definida fora do atributo como relação mecânica a outros modos, aqui, o corpo, visto que consideramos a existência física do indivíduo. Não esqueçamos que a essência, tal como ela existe no atributo coisa. Certamente, a essência do modo, tal que existe no atributo no sentido de um grau de potência singular, deve ser distinguida da existência modal do ser singular e finito do qual é essência. É preciso também acentuar que a essência do corpo, assim como o corpo existe atualmente, depende de Deus; ela não se produz por ela mesma, mas possui em Deus a sua causa. A essência mantém no atributo uma relação qualitativa de comunidade com todas as outras essências não deve ser concebida de maneira exterior como se se tratasse de partes distintas do espaço; as essências se diferenciam qualitativamente do mesmo modo que, por exemplo para Bergson, não é possível separar um som ou um sentimento da continuidade da melodia ou das variações de intensidade da vida afetiva.

Podemos evocar neste ponto a maneira como Gilles Deleuze diz que toma emprestado de Duns Scoto uma distinção elaborada na Idade Média, para tentar estudar uma forma de individuação da essência modal, individuação de ordem intensiva, que não exige pensar as essências das coisas singulares da mesma maneira que as coisas existentes, quer dizer, como partes exteriores umas das outras.

Não podemos distinguir as coisas existentes senão na medida em que suas essências são supostas distintas; da mesma maneira, toda distinção prévia. Por isso é provável que uma essência de modo correspondente não existe. Mas como? Voltemos a Duns Scoto: a brancura, diz ele, tem intensidade variáveis: elas não são acrescentadas à brancura como coisa a outra coisa, como uma figura se une a um muro sobre o qual é traçada; os graus de intensidade são determinações intrínsecas, modos intrínsecos da brancura, que permanece univocamente a mesma sob qualquer modalidade que seja considerada. (Deleuze. Spinoza et le problème de l´expression. Paris: De Minuit, 1973, p. 179)

Da mesma maneira, a existência atual do indivíduo à medida que esse indivíduo é formado por outra união de corpos, não deve ser concebida como outra coisa, ou uma realidade separada, separada da essência tal como esta existe no atributo. Com efeito, a distinção entre atributo e modos é uma distinção modal, e devemos lembrar neste ponto que a função dos modos infinitos imediatos e mediatos, tal como estudamos no primeiro capítulo, a respeito da produção das coisas singulares, é suprimir a ficção de um desdobramento entre, por um lado, a determinação dita interna de modo por Deus – sendo Deus como a causa interna da essência do modo no seio do atributo – e, por outro lado, sua determinação dita externa pelo sistema infinito de reenvio de causas finitas. Na realidade, Deus ou o infinito, é sempre causa próxima do finito; é a própria produtividade do infinito que se compreende no atributo, onde as essências de modo constituem intensidades singulares, e na extensão modal, onde se manifestam corpos distintos uns dos outros, tendo a existência de cada um deles por condição, em parte, a ação dos outros corpos. O finito é, pois infinito, tanto na ordem da essência como na da existência. Por conseguinte, a essência não é composta da mesma maneira que as relações dos corpos entre eles. Ela exprime uma potência determinada as indecomponível, uma afirmação da substância no indivíduo e, inversamente, uma força de ser do indivíduo. Também se deve renunciar a ver na essência singular uma finalidade interna qualquer; o indivíduo tem uma essência singular e existe sob a forma de uma certa relação entre uma infinidade de partes. Do infinito ao indivíduo, o ser da substância se exprime na potência singular como potência do múltiplo.

Os corpos simples são produzidos pelo modo infinito imediato, quer dizer, pela relação de movimento e de repouso que resulta da natureza absoluta da extensão. Os corpos simples se distinguem entre eles pelo movimento e pelo repouso, pela velocidade e pela lentidão. Não formam um indivíduo distinto senão sob a única condição que um, por exemplo, se desloca, enquanto o outro permanece imóvel, ou se movem a velocidades diferentes. A extensão produz assim suas partes como acontecimentos relativos, definidos unicamente por relações exteriores. Nessas condições, o corpo simples não pode senão manter seu estado, quer dizer, conservar a sua velocidade; o seu contato limita-se ao princípio da inércia. Além disso, é preciso sublinhar que mesmo esta conservação simples implica a resistência do corpo simples ao outros corpos, a fim de manter a trajetória em linha reta. Convém, portanto, ter presente no espírito o fato de que estes corpos simples não são corpos indivisíveis e elementares; Spinoza diz somente que eles são muito simples, o que significa que podem ser divididos ainda. Estes corpos simples são de fato uma abstração teórica, pois são pensados a partir de corpos efetivamente reais. No entanto, a sua simplicidade relativa consiste na simplicidade das formas de relações pelas quais se distinguem entre eles: o movimento e o repouso, a velocidade e a lentidão (Ética, II, prop. 13, axiomas 1 e 2). Tais corpos formam as partes componentes, abstratamente isoladas, dos indivíduos, apresentando propriedades comuns mínimas e, portanto, poucos traços distintos. Inversamente, pode-se adiantar que a única realidade concreta é o indivíduo, corpo composto de uma infinidade de corpos.

. Há assim uma continuidade entre os corpos simples e os corpos compostos, mesmo se os corpos compostos podem distinguir-se uns dos outros segundo uma relação de proporção entre o movimento e o repouso, a velocidade ou a lentidão. Também quanto mais um corpo é composto, mais está em condições de distinguir-se, em numerosos aspectos, dos outros corpos. O próprio corpo humano é um corpo composto. A sua originalidade e sua riqueza respondem aos caracteres gerais dos corpos compostos, mesmo se o corpo humano é, como tal, particularmente complexo, tanto em matéria de composição como de integração, quer dizer, de síntese entre suas partes. Spinoza define assim o indivíduo, enquanto é uma união de corpos:

Quando um certo número de corpos da mesma ou de diversas grandezas sofrem da parte dos outros corpos uma pressão a aplicar-se uns sobre os outros; ou, se eles se movem com o mesmo grau ou com graus diferentes de rapidez, de tal maneira que comunicam os seus movimentos entre si segundo uma relação constante, diremos que esses corpos estão unidos entre si e que, em conjunto, formam todos um corpo, isto é, um indivíduo que se distingue dos outros por essa união de corpos. (Ética, II prop. 13, definição após o axioma 2).

Spinoza deduz duas leis complementares da formação do indivíduo. De um lado, a coação exterior (a “pressão do ambiente”), que impõe aos corpos uma certa relação; de outro lado, a comunicação da mesma proporção de movimento e de repouso, entre as partes que constituem um indivíduo. A unidade do indivíduo pode ser enunciada como a proporção constante de movimento e de repouso entre suas partes, que delimita esse indivíduo em relação aos corpos circundantes. Mas esta invariância se diversifica numa série mais ou menos rica de relações constantes, que podem estabelecer-se entre as partes do indivíduo, de tal maneira que essas partes se comuniquem o movimento sem prejudicar a unidade do conjunto. Sabendo que a unidade do arranjo é função de suas relações com o mundo exterior, é evidente que a complexidade interior do indivíduo, ou sua aptidão para variar a relação entre suas partes, ao mesmo tempo em que mantém a sua unidade de conjunto, define sua aptidão a resistir ao mundo exterior e a manter a estabilidade de seu ser, usando a elasticidade que sua riqueza de composição lhe permite. Assim, fica claro que a identidade individual não pode ser concebida fora das relações que o indivíduo é suscetível de manter com o mundo exterior. O indivíduo, de fato, é inteiramente constituído pelas relações exteriores que se estabelecem entre os modos da matéria; em si mesmo ele é uma composição de corpos que vai ao infinito, sem que em parte alguma uma “interioridade” possa ser descoberta. Vimos, porém, que o indivíduo é igualmente uma essência, atualizada pela relação entre as coisas finitas: essa essência própria age como tendência a perseverar no ser e a resistir àquilo que tende a destruir o indivíduo. (Ética, II, prop. 6 e 7).

Quais são, todavia, as mudanças que o indivíduo pode suportar sem ser destruído? Os lemas 4 a 7 descrevem as variações que não afetam a identidade do indivíduo, enquanto essas modificações ficam compreendidas na proporção de movimento e de repouso, que definem a estrutura invariante de seu ser. A regeneração mostra que, se os corpos exteriores substituem as partes que se separaram do indivíduo, este mantém a sua unidade. Do mesmo modo, o crescimento é suportável se a modificação de grandeza das partes do indivíduo permanece nos limites de uma relação constante de movimento e de repouso entre essas partes; as partes podem deslocar-se umas em relação às outras e modificar a direção de seu movimento, sob a condição de se reproduzir a direção de seu movimento, uma relação constante. Enfim, o próprio indivíduo é suscetível de mobilidade, de ajustamentos diversos das a partes de seu corpo no curso de seus gestos e de seu comportamento; esta flexibilidade, todavia, não altera a relação total que define o compósito.

Estas observações permitem abordar a originalidade do corpo humano, que consiste na riqueza de sua composição e em sua integração forte, o que permite amplas mudanças de forma e uma renovação importante das partes componentes. Os seis postulados que concluem o apêndice dedicado à física da proposição 13, parte II da Ética, enunciam estes caracteres do corpo humano. Ele apresenta um grande grau de complexidade, dado que é formado pelo arranjo em vários níveis de conjuntos muito compostos (1º postulado). Daí resulta uma grande variedade interna de conjuntos muito compostos que constituem o indivíduo: partes fluidas, moles ou duras. Esta diversidade de estrutura permite uma grande aptidão à mudança de figura e de movimento (2º postulado). Uma tal diversidade, bem como a variabilidade dos subconjuntos que compõem o indivíduo, permite que este seja afetado de numerosas maneiras ao mesmo tempo em que conserva a sua forma. O indivíduo pode tanto mais facilmente fazer aquilo que depende de sua própria natureza, quer dizer, ser ativo, que pode suportar um máximo de variações externas ao mesmo tempo que conserva um funcionamento autônomo (3º postulado). Este é motivo por que ele tem necessidade de um fluxo de corpos exteriores que garantam a sua renovação (4º postulado). Enfim, a diversidade dos tecidos que constituem o corpo permitem que ele guarde os traços de afecções, o que garante a sua sensibilidade bem como o seu poder de reagir (5º postulado). Em conclusão, o arranjo sofisticado das partes do corpo humano permite agir segundo um grande número de maneiras sobre os corpos exteriores (6º postulado). O corpo humano é, por conseguinte, um indivíduo marcado pela riqueza do exterior. Ele pode modificar o mundo e ser modificado por ele em razão de sua aptidão a ser afetado, que é ao mesmo tempo ampla e está em condições de evoluir.

RIZK, Hadi. Compreender Spinoza; traduação de Jaime A. Clasen. – Petrópolis, RJ, Vozes, 2006. (Capítulo 3: O INDIVÍDUO)

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INVESTIGANDO A MÍSTICA DA CONSCIÊNCIA NO CIBERESPAÇO I

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Consciência versus Identidades: Primeiras questões

Caso haja uma consciência no espírito ou membros atuantes humanos habitantes do
ciberespaço, é preciso perguntar por onde ela começa. Começa na descoberta de um EU,
em um EU SOU (aquele que se reconhece e que se identifica tal qual é qualquer que seja a circunstância) – os seus avatares escolhidos em detrimento de sua realidade física.

“semântic avatar” : “Boldly generalizing from the trends identified in this text, I predict that in the digital civilization of the future, the self-referential loop in which our subjective identity is constructed will cut across ecosystems of ideas and, especially, semantic avatars of individuals.” (Pierre Lévy – The Data Centric Society. Jan.2015)

Caso exista esta consciência, será preciso dizer que ela é diferente do que entendemos por “identidades” (ID).

Creio que a consciência não tem nacionalidade, está além do espaço-tempo. Habita lugares diversos em tempos simultâneos, como nossos pensamentos e ideias que conversam dentro de nós ruidosamente, em diversos canais do espaço-tempo.

A identidade é física, frágil e muitas vezes móvel. Sim, porque em alguns momentos
incorpora as nuances da consciência que lhe empresta a experiência do ser-estar.
Identidades poderiam ser pequenas porções de uma consciência.

A identidade agrupa coleções ao redor de si, coleções com significados que alimentam a
consciência – sejam estes conteúdos, seus dons, fantasmas, defeitos ou virtudes. Memórias da fragmentadas de sua essência.

Há dualidade, há conflito porém os significados estão intimamente conectados,
entrelaçados, e caoticamente espalhados no todo. Um quebra-cabeças para uma única
consciência decifrar. Será possível?
Percebam bem, a identidade é o agregador de signos, conteúdos… e a consciência, por sua vez, é a que tem a capacidade combinatória para extrair significados dos conteúdos que cultiva.

O conteúdo não é um bem a ser possuído, o conteúdo é absorvido (diria que de maneira
celular) em doses individuais de sentido, agregadas à energia mais compatível com o
momento no qual a consciência está e é.

Portanto, não há temporalidade linear. O futuro e o passado são percursos intermináveis
para a consciência que busca o conhecimento de si e do todo. O futuro e o passado
colocam a consciência mais ciente do seu papel no agora. Somente na intimidade de seus
signos e significados pessoais está a sua própria resposta.

O primeiro passo da consciência é a própria liberdade e saber-se livre para consagrar categorizações que signifiquem e a conectem ao todo. Tudo que no meio deste processo autoconhecimento for conflituoso ou impreciso, poderá ser descartado gerando falhas, lacunas.

O que fazer quando no ciberespaço temos uma infinidade de identidades para uma mesma consciência? (Por vezes, consciência indecifrável! Quero dizer, difícil de catalogar, categorizar).

Então, como iniciar o desenvolvimento de uma consciência se não conseguirmos unir as
pontas de suas identidades? E, mais adiante, pensando em inteligência artificial, temos
nisso um dilema. Haverá a compreensão de que a identidade sofre mutações de humor de acordo com seus estados de espírito?

Evidentemente já temos alguns algoritmos para isso, no entanto, falta-nos a poesia da
“singularidade”.

Em que momento despertaram as consciências? Onde elas conseguem se perceber? Não
seria no olhar egocêntrico de Narciso ao contemplar sua própria imagem no espelho
d´água. Mas o “olhar-se” (Ser o próprio OBSERVADOR) é, com certeza, é um dos primeiros passos na iniciação de uma consciência.

Esta iniciação que tem princípios tais como os fundamentos de iniciação espiritual leva à
afinação da alma como um instrumento musical que descobre como fazer parte da
orquestra.

O devido valor dado à individualidade leva-nos a compreender papéis e responsabilidades no conjunto.
….

 

 

 

 

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Qual o percurso das competências do conhecimento? (Le parcours)

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Após assistir ao vídeo 1 – Professor Pierre Lévy ( Les arbres de connaissances – 2, mar 1995) – #lesemantiquesphere)

Conforme alguns comentários do Professor Pierre Lévy em sua palestra sobre “Árvores do Conhecimento” – Indago sobre as competências do conhecimento.

As competências do conhecimento seriam desenvolvidas somente através de uma percurso profissional? Afirmar que estas competências se desenvolvem apenas em ambientes acadêmicos e profissionais seria limitante pois o conhecimento não é via de regra inserido apenas em contextos comerciais, institucionais ou acadêmicos.

O conhecimento está em organizações religiosas, em partes conhecidas e desconhecidas da história da humanidade.

Portanto, talvez não seja nenhuma ousadia afirmar que o conhecimento está onde ele for colocado (universos variados). As competências do conhecimento poderiam absorvê-lo e coloca-lo em lugares enigmáticos na busca de preservá-lo de consciências não honrosas ou éticas. As instituições públicas governamentais julgam-se as detentoras do conhecimento mas não estamos muito certos disso! Já sofri alguns atentados cibernéticos por pensar diferente. (risos!).

Por isso, muitas vezes o conhecimento vem escondido num simples enigma. Enigmas guardam tantos desdobramentos e tantas dobras nas quais se escondem outros enigmas que só podem ser decifrados pelos iniciados. A mística da consciência – no meu entender, primeiros galhos da árvore do conhecimento é um assunto que ainda quero continuar abordando nos próximos artigos.

Então, não há percurso apenas profissional, apenas religioso, apenas místico ou mítico. Uma competência do conhecimento só é quando os desdobramentos de suas questões “iniciáticas” são compreendidos na sua essência por meio de posturas como a confiança, a ética e a harmonia de seus sentidos e sentimentos que serão determinantes para seus pensamentos, linguagem e comunicação com seus interlocutores e até observadores.

A cultura é um espaço onde fabulosas histórias contêm um pouco de popular e de conhecimento popular. Os que colocam pinceladas de conhecimento em lendas sabem que apenas alguns “espíritos” mais espertos verão os ditos nas entrelinhas.

Porque sendo uma competência do conhecimento, diversas vezes será testada em sua capacidade de comunicar sem o dizer o explícito. Dizer o explícito, muitas vezes, é sinal oposto de inteligência. Às vezes, comunicará nuances de um conhecimento, outras vezes deixará pistas e tantas outras vezes receberá e transmitirá informações de modo não-verbal e não-gestual. (Sim, pensemos em telepatia para daqui uns 15 anos!)

As competências do conhecimento não estão em categorias pré-estabelecidas. Elas são. São dinâmicas e comunicam-se de forma transversal e por isso, possuem mobilidade suficiente para circular em universos variados.

A experiência individual é como a marca de cada competência do conhecimento, criando suas próprias cartografias. Eis a importância da contribuição de cada um na construção e na formação das complexidades da inteligência coletiva.

Enfim, poderia dizer com minha parca experiência que, os mapas podem ser os mesmos, mas os caminhos, os percursos sempre serão diferentes. E, se a diversidade é tão importante, competências do conhecimento vindas de várias categorias trazem mais valor que o inverso.

Não atropele ninguém por aí! Siga seu curso! (Eu adoro metáforas! E sou uma atrevida de comentar este vídeo!)

Obrigada por compartilhar o vídeo, Professor Pierre Lévy!

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A publicidade, a sustentabilidade e o espaço dos atores digitais

ASSINE BINÓCULO CULTURAL AGORA!

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Ana Paula Sena de Almeida

Acredite, minha filha de quatro anos é mestre neste assunto.

Desde 2010 venho observando o mercado digital de publicidade e cheguei até a pensar em enfrentar, de novo, a chatice da universidade para discutir o assunto em forma de uma dissertação de mestrado.

A universidade iria levar alguns meses me fazendo perguntas redundantes até que eu tivesse em mãos um pré-projeto para a comissão de avaliação dizer sim ou não à discussão que gostaria de propor.

Não desisti de imediato mas não pretendo perder tempo fazendo propostas de projetos de mestrado que acabam servindo de inspiração e não entram o hall dos aprovados pelos “doutores do saber” na academia.

Enfim, a discussão é muito simples, suas ondas transformadoras é que não são muito digeríveis pelo atual mercado ganancioso e apressado.

As questões que quero observar são as seguintes:

  1. o novo capitalismo (new capitalism) conseguirá construir uma sociedade auto-sustentável baseada em compartilhamento (Sharing Economy)?
  2. Esta nova forma de produzir riquezas acabará por modificar a moeda física para moedas digitais que proporcionem recompensas para aqueles que compartilham?
  3. A publicidade online poderá ser um meio de gerar e compartilhar riquezas para os atores digitais?

Pois bem, vou começar pelo último item no qual minha filha de quatro anos de idade tem sido minha mestra, ensinando-me como é rico o novo universo da publicidade online.

Começo relatando sobre a convivência com o cenário que a Cora (mestra e amante de publicidade online) está acostumada a interagir. O pedido mais ardoroso dela é “mamãe, quero ver propagandas no seu computador!”. Significa: Ligar o computador nos canais do YouTube onde outras crianças e adultos postaram vídeos brincando com bonecos já conhecidos do universo de desenhos infantis. A maioria Disney, é claro!

Então, ao compartilharem os brinquedos através de vídeo-brincadeiras na rede social estas crianças e adultos disponibilizam seus próprios roteiros de histórias, compartilham suas preferências de consumo e ainda potencializam reflexões sobre porquê e como consumir certos objetos de desejo.

É incrível porque também absorve o impacto de consumo por compulsão, ou seja, antes de comprar aquele bonequinho da Peppa, ela está vivenciando a simulação da experiência do consumo deste objeto que seria objeto de desejo e acessível, por meio de simulações de brincadeiras online.

O que é ainda mais fabuloso, quando chegar a consumir tais produtos, ela irá querer produzir seus próprios vídeos, renovando a cadeia de acesso e simulação de consumo.

Então pergunto: É ou não é uma nova rede de consumo baseada no compartilhamento?

Mais interessante é que compartilhar gera mais riquezas do que guardar brinquedos e brincadeiras para si!

Penso que dentro de poucos anos a Cora estará produzindo vídeos, roteiros e brincadeiras para compartilhar com os amiguinhos dela. Penso que ela vai querer recompensas por isto, curtidas, audiência e recursos de publicidade. Pode ir além, como alguns que já são profissionais no assunto, pode ter patrocinadores, fornecedor de produtos que irão compor os conteúdos do canal do seu perfil.

Portanto, percebe-se que não estamos tratado apenas de consumo mas de um comportamento diferente de um diante disso. Talvez uma flexão (como as flexões de verbos!) não tão egoístas e consumistas como as que fazíamos há anos atrás. Eu diria uma flexão em grupo: Eu CONSUMO, COMPARTILHO o que eu consumi, Você CONSOME VIRTUALMENTE e, se quiser, FISICAMENTE; Você COMPARTILHA e GERA audiência. Eu GANHO, Você GANHA, Você PRODUZ, nós CONSUMIMOS, GANHAMOS e COMPARTILHAMOS.

Entendo isto como o início do “new capitalism” apesar de todo ceticismo dos nossos saudosos amigos socialistas.

Entendo como a potencialização do consumo que se recicla para gerar outras fontes de renda e de consumo. Num ciclo que só termina onde terminar a criatividade dos atores digitais.

Talvez num futuro próximo possamos não mais precisar de moedas físicas de trocas. Talvez apenas precisemos de trocas digitais que se consolidem em benefícios para os que estiverem conectados à rede social e em outras dimensões desta rede (nunca sabemos até onde ela vai!).

“By paying attention to the politics of place, we can locate alternatives to dominant neoliberal capitalism already present. In this sense, a seach for future capitalism is closely interrelated to present as well as potential future experiences ‘in place’. For example, Buen Vivir a concept that has now travelled widely around the world as an alternative ‘horizon’ in place which is inspiring new forms of economics in communities around the world.” (HARCOURT, Wendey. The future of capitalism: a consideration of alternatives. Cambridge Journal of Economics, 2014, 38, 1307-1328. Oxford Journals. p.1309)

Então, pensar e produzir em rede é um trabalho e também uma forma de gerar riquezas, ainda que elas estejam indefinidas na forma de distribuição de recompensas! Penso que a piada mais fresca do momento é que o “pensar” diz muito mais sobre os caminhos que o mercado irá percorrer do que os altos e baixos da bolsa de valores.

Vamos às críticas! Não são poucas. Ok, se pensar vai interferir  tanto no consumo, não seria prejudicial para nós tanto controle?

“Na sociedade de consumidores, ninguém pode se tornar sujeito sem primeiro virar mercadoria.” (BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo. p. 20)

Ao mesmo tempo que somos descobertos, decifrados e vigiados, apresentamos à rede social nossas formas de consumir e ainda tiramos proveito disso buscando gerar riquezas (recompensas) para nós mesmos, ainda que seja uma expectativa não uma regra até o momento.

“Escrevendo de dentro da incipiente sociedade de produtores, Karl Marx censurou os economistas da época pela falácia do ‘fetichismo da mercadoria’: o  hábito de, por ação ou omissão, ignorar ou esconder a interação humana por trás do movimento de mercadorias. Como se estas, por conta própria, travassem relações entre si a despeito da mediação humana.” (BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo. p.22)

Outro desafio apontado pelo autor é a inquietante pergunta que pode ser, também, uma suposição aterrorizante para alguns: se tudo se tornar consumo, o que será trabalho?

Outros desafios seriam encontrados na reflexão sobre as divisões sociais colocadas em categorias de trabalhadores da Economia Cognitiva e trabalhadores da Economia Arcaica? Teríamos mais divisões?

“A subjetividade numa sociedade de consumidores, assim como a ‘mercadoria’ numa sociedade de produtores, é  (para usar o oportuno conceito de Bruno Latur) um fetiche – Um produto profundamente humano elevado à categoria de autoridade sobre-humana mediante o esquecimento ou a condenação à irrelevância de suas origens demasiado humanas, juntamente com o conjunto de ações humanas ao seu aparecimento é que foram a condição sine qua non para que isso ocorresse.” (BAUMA, Zygmunt. – Vida para consumo. p. 23)

Por outro lado, como não expressar nossas subjetividades estando conectados, constantemente na mira dos interessados em Marketing e em Vendas?

“Não nos relacionamos da mesma forma que há 100 anos ou na pré-história pode ser que as redes sociais on-line afetem e modifiquem o cérebro humano como outras tecnologias fizeram no passado, principalmente o fogo. A questão é que a mudança do comportamento humano em geral ao longo do tempo se reflete em todas as dimensões da vida.” (GABRIEL, Martha. Marketing na Era Digital. p. 299)

Reflete-se no consumo e nas relações que expressamos através dele, promovendo o consumo por meio de nossas subjetividades. Torna-se um direito individual expressar meu modo de consumir e, por outro lado, torna-se uma responsabilidade compreender as formas mais adequadas de compartilhar e receber recompensas por este trabalho subjetivo e informal.

“A falange se dedicará ao trabalho útil, das ciências, das artes e da culinária. Tornará a indústria atraente e terminará com a distinção negativa entre produtores e consumidores.” (CHARLES FOURIER. 1808 in MORACE, Francesco. O que é o futuro? p. 53)

Dentro de pouco tempo, compreenderemos com mais serenidade que cada pessoa (agente digital) será um canal emanando conhecimento tácito [1].

O papel de cada agente digital não poderá ser arbitrariamente obstruído, do contrário, estaríamos ferindo a ecologia da rede. A coexistência de variedades ou de diversidades é que poderá nos proporcionar conhecimento renovado, com agilidade com que os fatos se desdobram. A busca da harmoniosa e perene paz entre os atores da rede. (“A paz perpétua”, Kant.)

“ECONOMIA COGNITIVA; É possível, com efeito, considerar os grupos humanos como ‘meios’ ecológicos ou econômicos nos quais espécies de representações ou de ideias aparecem e morrem, se propagam ou regridem, competem entre si ou vivem em simbiose, conservam-se ou transformam-se.” (LEVY, Pierre. O que é Virtual. p. 99)

Este espaço de múltiplas trajetórias que se apresentam simultaneamente é o espaço da coletividade e, por incrível que pareça, é o espaço das individualidades porque propõe ao indivíduo “ser” o que se quer, quando e como sua criatividade permitir. É o espaço da publicidade em todos os sentidos porque quer conquistar olhares, aproximar corações, ocupar as mentes e inflar audiências. Todos os seres e consciências são chamados a compartilhar trazendo suas próprias contribuições; é saudável que estas contribuições sejam autênticas e pessoais para então contribuírem com o novelo da coletividade.

Referências:

HARCOURT, Wendey. The future of capitalism: a consideration of alternatives. Cambridge Journal of Economics, 2014, 38, 1307-1328. Oxford Journals.

BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria; tradução Carlos Alberto Medeiros. – Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

GABRIEL, Martha. Marketing na Era Digital. São Paulo:Novatec Editora, 2010.

MORACE, Francesco. O que é o futuro; tradução Simone Bueno Silva. – São Paulo:Estação das Letras e Cores, 2013.

PAIM, Ísis (Org.). A gestão da informação e do conhecimento. Belo Horizonte: Escola de Ciência da Infomação/UFMG. 2003.

LÉVY. Pierre. O que é virtual?; tradução de Paulo Neves. – São Paulo: Ed. 34, 1996. (Coleção TRANS).

____________

[1]  “conversão do conhecimento” – 1) conhecimento tácito em conhecimento tácito que chamamos de socialização; 2) de conhecimento tácito em conhecimento explícito que chamamos de externalização; 3) de conhecimento explícito em conhecimento explícito, ou combinação; e 4) de conhecimento explícito para conhecimento tácito, ou ‘internalização” (Nonaka, Takeuchi, 1997, p.68)

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Em tempos de inteligência coletiva…

o conhecimento voa…

 

Ano 2050

Compartilhe, identifique-se, seja, pense, energia que vai, energia que vem!

Psiquismo integral (Pierre Lévy, O que é o virtual? / p.104)

Éter! No Ethernum! (risos)

 

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Corre lá!

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Digitalização da Economia baseada em games e moedas digitais

Eu não sou economista, não sou gamer. Eu sou dona de casa formada em Ciência da Informação e especialista em modalidades do conhecimento distantes do tema.

Mas tenho palpitantes 😅.

Isto não é exatamente um artigo, é uma provocação visual em suporte digital.

Pesquise por termos como: estilo de vida, bitcoin, carteira digital, economia digital, pandemia, covid-19 mudança econômica, make money, play a game and make money.

Pronto. Temos um novo modelo econômico! Game now!

Acompanhe notícias sobre o assunto no scoop.it em Binóculo Cultural 😊👍

http://sco.lt/53eruS

População negra e Sociedade da Informação no Brasil

Publicado em 2004 – COPENE (III Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros) / Pesquisa Social e Políticas de Ações Afirmativas para os Afrodescendentes (3; 2004: São Luís – MA)

African-Print-Head-Wraps

Ana Paula Sena de Almeida

anysenna@hotmail.com

GEAb – Grupo de Estudos Afro-brasileiros Ciência da Informação PUC Minas 

Resumo: O Programa da Sociedade da Informação deve prever além da inclusão digital, políticas de inclusão social ou as chamadas políticas de Ações 

Afirmativas que incluam a comunidade negra na rede de oportunidades geradas pelo capitalismo informacional. Isto para evitarmos o mesmo erro da sociedade industrial, que excluiu brutalmente a população negra do acesso às

oportunidades de educação qualificada e aprendizado técnico. O capitalismo informacional exigirá mão de obra altamente qualificada e, para tanto, os governantes do país devem estar atentos ao que está claro nas estatísticas: a população negra continua sendo pouco privilegiada pela nova ordem mundial globalizada. Portanto, há que se investir em políticas de inclusão para minimizar os prejuízos. 

Palavras chave: sociedade da informação, exclusão racial, exclusão digital, exclusão social. 

 

Introdução 

O objetivo deste artigo é apontar os desafios e os obstáculos da inserção  da população negra no Programa da Sociedade de Informação brasileira.  Idealizado em 1996 e iniciado em agosto de 1999, pelo Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, o Programa da Sociedade da Informação no Brasil tem por finalidade: 

...lançar os alicerces de um projeto estratégico, de amplitude nacional, para integrar e coordenar o desenvolvimento e a utilização de serviços avançados de computação, comunicação e informação e de suas aplicações na sociedade, de forma a alavancar a pesquisa e a educação, bem como assegurar que a economia brasileira tenha condições de competir no mercado mundial. O indivíduo realiza a sociedade da informação através de seus conteúdos. (MIRANDA,2000) 

A principal meta deste programa é inserir o Brasil na era informacional ou na chamada sociedade da informação e do conhecimento, possibilitando que sua população tenha condições de acompanhar as mudanças no mercado global e nas tecnologias de informação, cada vez mais necessárias como ferramentas de comunicação. Mais informações sobre o programa brasileiro para a Sociedade da Informação (Livro Verde) podem ser encontradas no endereço eletrônico: https://livroaberto.ibict.br/bitstream/1/434/1/Livro%20Verde.pdf

Devido aos entraves históricos que excluíram a maior parte da população negra do acesso à informática e, consequentemente, à efetiva participação na era da informação, observamos que nessa nova sociedade, movimentada pelo saber, novamente é colocada de fora a maioria pobre, formada em mais da metade por negros e pardos. O país ainda depara-se com muitos problemas na estrutura do ensino básico. Segundo estatísticas do Censo Escolar 2001/INEP, apenas 25,4% dos alunos do ensino fundamental (de 1ª a 4ª série) estão  matriculados em escolas com acesso à informática. Já no ensino médio regular (de 5a a 8a série), 45,6% dos alunos possuem acesso à informática. Nas universidades os números são ainda piores, menos de 4% de estudantes negros conseguem chegar aos cursos superiores de elite, segundo levantamento publicado na Folha de S. Paulo em 13 de outubro de 2001, geralmente, alunos negros tendem a se concentrar nas áreas de ciências sociais e humanas. 

O pouco acesso à formação e à informação torna a população negra mais propensa ao desemprego, à marginalidade e à violência. A sociedade da informação predispõe que seus cidadãos estejam aptos a lidar com conteúdos diversos, com capacidade para analisar, coletar e fazer uso da informação como ferramenta de cidadania. E aí está o viés: o que será das classes marginalizadas que pouco ou nenhum acesso têm às tecnologias da informação? 

A sociedade da informação pode se transformar em um espaço mais desigual do que nós poderíamos esperar e que corre o risco de se fechar em feudos, onde prevalecerão os interesses dos mais ricos (que ele denomina barões da mídia), ávidos em obter grandes lucros, impondo o prejuízo aos mais pobres. (MASUDA ,1996 apud ATAÍDE, 1997) 

Observa-se um ciclo desvirtuoso, onde a exclusão social leva à baixa escolaridade que, por sua vez, leva à exclusão digital e, por fim, à exclusão informacional que obstrui o acesso às oportunidades de desenvolvimento pessoal. As ações afirmativas com políticas de inclusão social para afrodescendentes são maneiras de buscar a minimização dos excessos da exclusão. Em nosso país 70% dos miseráveis são negros.  

 

Os números da exclusão digital

Um método de agir que é tão astuto

Com jeitinho alcança tudo, tudo, tudo

É só se entregar, é não resistir, é capitular

Capitu

A ressaca dos mares

A sereia do sul Captando os olhares

Nosso totem tabu…

(TATIT, 2000,CD, faixa 4) 

Quantas pessoas da população brasileira podem acessar diariamente a internet? Este acesso “livre” tem alguma relação com classe social, raça,  escolaridade ou idade? A estas questões a inclusão digital pretende responder e, sobretudo, diminuir a quantidade de excluídos digitais da economia informacional. O Brasil está em 28º lugar, no ranking digital, conforme informações de dezembro de 2003 da União Internacional de Telecomunicações. No entanto, os contrastes são muitos: milhões de pessoas no Brasil gostariam de ter telefone fixo, mas não têm nem como pagar pela assinatura básica residencial que custa em média trinta e cinco reais. 

No Mapa da Exclusão Digital, Néri (2003), aponta que a inclusão digital pode acontecer através de cinco vias: a) os domicílios com computadores conectados à internet; b) o local de trabalho; c) a escola devidamente equipada com laboratório de informática; d) a transação de negócios feitos via rede; e) órgãos do governo que proporcionem acesso aos usuários. O uso destas vias pode oportunizar o acesso ao conhecimento. 

Conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de 2001 e amostra do Censo Demográfico de 2000, ambas levantadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 12,46% da população brasileira dispõe de computador e 8,31% de acesso à internet. Ou seja, há um universo de mais de 90% da população que não tem acesso à internet em seus domicílios. A maior parte dos incluídos que possuem computadores em seus domicílios são mulheres. (52,11% do sexo feminino, contra 48,89% do sexo masculino). 

Quanto à escolaridade das pessoas incluídas digitalmente, a média é de nove anos completos de estudo. É uma escolaridade alta se comparada com a média nacional da população, que é de cinco anos de estudo. Os excluídos digitais têm, em média, escolaridade de quatro anos de estudo, o que indica que as pessoas que possuem computador em seus domicílios possuem maior escolaridade. 

A renda da população incluída digitalmente também é bem maior que a dos não incluídos. A população incluída tem renda média de 1677 reais, contra 452 reais dos excluídos, segundo o Censo Demográfico de 2000. 

Néri (2003), demonstra ainda que há desigualdades marcantes entre os estados do Brasil. Por exemplo, entre os mais incluídos estão o Distrito Federal, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Paraná. Já os menos incluídos são o Maranhão, Piauí, Tocantis, Acre e Alagoas. O autor observa que, dentre estas dez Unidades da Federação, a que possui maior nível de renda (média 2255 reais) e de grau de escolaridade (média de nove anos de estudo) é o Distrito Federal; por isso, não surpreende o fato de ele estar em primeiro lugar na inclusão digital. Em Minas Gerais, 9,17% da população tem acesso a computador e à internet, conforme Censo Demográfico de 2000. Os fatores de exclusão estão ligados à qualidade da renda (excluídos têm renda média de 450 reais), do grau de instrução (excluídos têm média de quatro anos de estudos) e da ocupação dos indivíduos (excluídos têm jornada de trabalho mais extensa que os incluídos, são 43,40 horas semanais enquanto que os incluídos trabalham menos, 41,76 horas semanais). Observa-se que mais jovens estão excluídos; na faixa entre 15 e 65 anos, a maior parte dos excluídos digitais possuem entre 27 e 28 anos, provavelmente, devido à sua baixa escolaridade e às poucas oportunidades encontradas. 

 

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Quanto às escolas, Néri informa que a maioria dos alunos na educação básica estão em escolas com bibliotecas, mas sem outros recursos pedagógicos, como laboratórios de ciências e de informática, quadra de esportes e 25,39% dos alunos com acesso à Internet. Os alunos do ensino médio são mais beneficiados. 

No quesito inclusão digital na escola, o estado que tem o primeiro lugar é o Paraná. 

A correlação entre desempenho escolar e acesso a computador é positiva em todas as faixas em questão e é a maior na faixa que compreende os alunos de 13 a 18 anos que frequentam a 8ª série. Tanto na prova de Português quanto na prova de matemática essa foi a faixa que mostrou maior impacto. O fato de ter computador na prova de matemática se relaciona com um desempenho escolar 17,7% maior do que quando o aluno não possui computador para 8ª série (NERI, 2003, p.32). 

Segundo Néri, a melhor forma de combater o apartheid digital em longo prazo é investir diretamente nas escolas, de modo que os alunos possam ter acesso desde cedo às novas tecnologias. 

Observa-se que a classe A e B têm maior acesso aos benefícios da internet. Portanto, não é mito que a exclusão digital exista; ela existe de fato e as estatísticas atestam isto. A “Capitu” dissimulada é a internet que se conceitua portadora do saber total e poderosa quando realmente consegue criar laços de interação entre as pessoas e as instituições. 

 

Negros e a Sociedade da Informação: caminhos para a inserção 

Entende-se por sociedade da informação aquela que adota como força motriz econômica o conhecimento e a informação usados de maneira estratégica com o objetivo de gerar lucro ou agregar valor. 

Hoje, “saber” é capital intelectual que proporciona oportunidades e privilégios. “Saber” é fator necessário para a empregabilidade, para a cidadania, para a criatividade e para a produtividade. O Brasil ainda enfrenta desafios na implantação da SOCINFO (Sociedade da Informação), são necessárias ações em telecomunicações, tecnologia, educação e comunicação. Além disso, requer melhoramento das estruturas de escolas, laboratórios e bibliotecas. 

O que caracteriza a sociedade da informação são três fatores: 

  1. Informação usada como recurso econômico; 

  2. Uso em maior escala da informação por parte do público; 

  3. Uso da informação para satisfazer a demanda geral de meios de comunicação e serviços.

Está se repetindo na sociedade da informação e do conhecimento o mesmo erro da sociedade industrial, onde negros tiveram lugar de destaque Programa da Sociedade da Informação (SOCINFO), iniciado em 1999 pelo Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia do Brasil. Apenas como operários e ficaram longe das oportunidades  economicamente privilegiadas. Nessa nova sociedade, estão se formando classes extremamente diferentes, não apenas letrados e iletrados, mas pessoas capazes de usar e acessar a informação e outros, por sua vez desventurados, sem acesso e sem condições de desenvolverem o “saber”. Mais um problema sério no Brasil, é que os alunos saem do ensino fundamental com dificuldades de compreensão de texto, enfim, a maior parte da população tem dificuldades na análise textual, não consegue compreender o que lê. Isto quer dizer que nossas bases não são sólidas, ou seja, nossas escolas possuem um ensino fraco, baseado em ensinar o básico sem ensinar o essencial que é pensar.  A implementação do sistema de cotas para negros afigura-se como uma estratégia bastante válida, no contexto atual. Mas é preciso avançar mais, por meio do fortalecimento do ensino fundamental. As escolas devem ser apreciadas nos processos de ações afirmativas, afinal, é no ensino fundamental que o aluno deve ter conhecimento sobre suas raízes, sobre sua cultura e sobre seu povo. Isto, por si, já é capaz de mobilizar o aluno à reflexão sobre sua própria realidade e perspectivas para a vida. Existem propostas para a inserção da história e da cultura africana no ensino fundamental, no entanto, poucas ações práticas tem sido implementadas. Conhecer outras referências sobre a nossa cultura seria de vital importância para fortalecer a auto estima das crianças e adolescentes. 

Histórias como a de Nzinga Mbandi, líder e mulher africana de Angola, que resistiu com bravura ao domínio dos portugueses no século XVI, mostram-nos que os antepassados da África foram mais que os mártires do Brasil. 

Infelizmente, as histórias que contam às crianças falam de líderes que sempre são capturados ou mortos, como Zumbi do Quilombo dos Palmares ou Tiradentes, o inconfidente de Ouro Preto. Deve-se fazer um resgate histórico e que vise valorizar as raízes negras, a cultura e a história verdadeira deste povo. Ao contrário de enfatizar exemplos como os dos mártires (mortos ou capturados em meio a sua luta), as escolas poderiam se concentrar em exemplos menos decepcionantes ou condicionantes. Buscar na história do Brasil e da África, identidades que fortaleçam a postura, a auto estima e agucem a capacidade crítica dos estudantes. 

Hoje, escolas públicas brasileiras sofrem o mal da inércia, o engessamento provocado pela falta de recursos e a falta de abertura para ações criativas que conjuguem arte com educação. Talvez seja este o caminho, eliminar o estilo militarista de gerenciar escolas em prol da instituição de uma linguagem que combine cultura, arte e educação. Esta proposta tem sido, experimentada por algumas escolas e tem-se obtido resultados significativos quanto à diminuição da violência entre os alunos e melhorias no aprendizado. 

Não basta implantar cursos de informática em comunidades carentes para sanar o problema da exclusão digital. Antes, é preciso ir além, ensinar aos alunos a  estabelecerem contato com a informação, usando a informação e percebendo qual a importância dela dia-a-dia. Este compromisso deve ser perseguido desde os primeiros anos da criança na escola. Afinal, hoje, nas escolas particulares, onde a maior parte é composta pela elite de brancos, ensina-se desde informática a idiomas como espanhol e inglês. Basta esta comparação para compreender o quanto crianças nas escolas públicas estão ficando atrasadas em relação ao mundo que surge diante delas. 

O mercado de trabalho no capitalismo informacional tende a ser cada vez mais agressivo e seletivo. Terão lugar os que melhor se colocarem em termos de conhecimentos técnicos, práticos e de habilidades no uso das informações. 

Portanto, se a população negra, que é a maioria excluída, continuar com o pouco acesso às boas instituições de ensino, será uma irresponsabilidade para com o futuro e a paz social. Por isso, o sistema de cotas é necessário. Por isso, também, é necessário ampliar os programas de informática nas escolas públicas. 

E, por isso, é preciso exigir de nossos governantes políticas de ações afirmativas que contemplem a inclusão social da população negra, não apenas a inclusão digital. É importante deixar de lado o preconceito velado que há tantos anos alimenta o Brasil, pois não há nada de ofensivo em se ter cotas para negros nas universidades, pelo contrário, trata-se de uma dívida social que o país tem para com esta parcela da população que ajudou a construí-lo. Alguns defendem o sistema de cotas para os mais pobres em detrimento da polêmica de se definir quem é realmente negro no Brasil. Outros defendem as cotas para alunos vindos das escolas públicas. Porem, as estatísticas são claras, no Brasil, o fator cor da pela é determinante para a exclusão do indivíduo. Enfim, o preconceito em relação ao indivíduo negro é maior que o preconceito em relação à classificação de indivíduo pobre. 

Quando se trata de Sociedade da Informação, a polêmica da exclusão fica ainda maior. Temos um desafio grande: uma população vinda das escolas públicas que não sabe interpretar textos, não consegue extrair informação dos conteúdos que acessa e tem dificuldades com cálculos e gráficos. 

Apesar de se saber necessário, são tímidas ainda as propostas de debates sobre a inserção da população negra nos projetos para a implementação da Sociedade da Informação Brasileira. Infelizmente, é possível que exista uma sociedade da informação apenas para alguns. E a isto não poderemos chamar de sociedade. Teremos sim, um espaço cortado por muros de conhecimento e de ignorância.

 

Referência Bibliográfica 

ATAÍDE, Maria Elza Miranda. O lado perverso da globalização na sociedade da  informação. Revista Ciência da Informação, Brasília, v.26, n.3, p.268-270, set./dez.1997. 

CANCLINI, Néstor Garcia. Consumidores e Cidadãos; conflitos multiculturais da  globalização. 3ed. Rio de Janeiro:UFRJ, 1997. 266p. 

CASTELLS, Manuel. Fim do Milênio. São Paulo: Paz e Terra, 1999. – A era da  informação:economia, sociedade e cultura. v.3. p.411-439. 

CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. São Paulo: Paz e Terra, 1999. – A era da informação:economia, sociedade e cultura. v.2. p.409-427. 

MIRANDA, Antônio. Sociedade da informação: globalização, identidade cultural e conteúdos. Revista Ciência da Informação, Brasília, v.29, n.2, p.78-88, mai./ago.2000. 

MIRANDA, Antônio.[et. al]. Os conteúdos e a Sociedade da Informação no Brasil. Revista Datagrama Zero. v.1, n.5, out./2000. 

MENEGHINI, Carla. “Discriminação sutil” tira aluno negro da universidade. Folha de S. Paulo. Folha Trainne. 13 de outubro de 2001. 

NERI, Marcelo Côrtes (Coord.). Mapa da exclusão digital. Rio de Janeiro:FGV/IBRE, CPS, 003. 143p. 12 

PACAVIRA, Manuel Pedro. Nzinga Mbandi. 3 ed. Cuba:União dos Escritores –Angolanos/Edições Cubanas. 1985.217p. 

SILVEIRA, Henrique Flávio Rodrigues da. Um estudo do poder na Sociedade da

Informação. Revista Ciência da Informação. Brasília, v.29, n.3, p.79-90, set./dez.2000. 

TAKAHASHI, Tadão (org.). Sociedade da Informação no Brasil; livro VerdeBrasília: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2000. 

TATIT, Luiz. Capitu. Intérprete: Ná Ozzetti. In: Luiz Tatit. O meio. São Paulo: Dabliú Discos, 2000. 1 CD. Faixa 4.

Os métodos de ensino para uma Sociedade da Informação

Os métodos de ensino para uma Sociedade da Informação

Los  métodos de enseñanza para uma Sociedad de la Información

(Publicado em 2007 –  Observatório de la Cibersociedad (OCS) Rede de Virtual Internacional de pesquisadores que tem base na Espanha)

Ana Paula Sena de Almeida

 

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Resumo

As questões referentes aos métodos de ensino neste artigo são discutidas sob as observações de um profissional de informação. Portanto, este olhar não preconiza as especificidades dos métodos de ensinar, mas fundamenta-se a partir dos dilemas da exclusão digital e nas conseqüências para o desenvolvimento da Educação no Brasil. As questões chave ficaram em dois pontos: primeiro o alto índice de analfabetismo funcional identificado em 2005 por pesquisa do Instituto Paulo Montenegro (IPM), um dos braços do IBOPE. Segundo, as demandas de uma educação para formação de cidadãos da Sociedade da Informação brasileira considerando os desafios de um país com grandes diferenças sociais e econômicas. E considerando, também, as diferenças de acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs); fator importante para compor uma infra-estrutura adequada à implantação de projetos de Educação a Distancia (EAD). Outro fator importante para o país ter aprendizes do ensino a distância é o bom desenvolvimento da capacidade de leitura, interpretação e escrita de textos. Por isso, a proposta deste artigo é questionar a qualidade dos resultados obtidos com os métodos de ensino utilizados no Brasil para formação de cidadãos em plena era da informação e do conhecimento.

Palavras chave: educação, analfabetismo, exclusão digital, sociedade da informação.

 

  1. Livro Verde – Educação na Sociedade da Informação

 

As escolas dispensam, mais e mais, energias diversas preparando os escolares para um mundo que já não existe. McLuhan (1911-1980)

 

O Livro Verde é um documento marco da entrada do Brasil na Sociedade da Informação. Nele, constam as diretrizes para que o país possa alcançar a eficiência e a competitividade necessárias para compor uma sociedade baseada em conhecimento.

No capítulo 4 do Livro Verde, intitulado “Educação na Sociedade da Informação” trata-se especialmente das diretrizes para a educação. São diretrizes mais voltadas à formação de infra-estrutura tecnológica – ponto crítico para um país com dimensões continentais e com tantas discrepâncias econômicas e sociais.

Fato importante para este artigo é ressaltar que somente infra-estrutura tecnológica não nos isenta de cuidados especiais com a formação de profissionais e de cidadãos aptos a usar seus conhecimentos em benefício da capacitação e orientação de outros tantos ainda alheios à nova realidade. “A educação é o elemento-chave na construção de uma sociedade baseada na informação, no conhecimento e no aprendizado”.(Sociedade da Informação no Brasil: livro Verde, p.45).

Educar na Sociedade da informação requer infra-estrutura tecnológica, como já foi ressaltado; mão de obra qualificada para utilizar estas ferramentas da tecnologia e das telecomunicações e métodos de ensino que proporcionem um desenvolvimento cognitivo voltado para a pesquisa, para a autonomia e para a curiosidade investigativa.

Trata-se de investir na criação de competências suficientemente amplas que lhes permitam ter uma atuação efetiva na produção de bens e serviços, tomar decisões fundamentadas no conhecimento, operar com fluência os novos meios e ferramentas em seu trabalho, bem como aplicar criativamente as novas mídias, seja em usos simples e rotineiros, seja em aplicações mais sofisticadas. Trata-se também de formar os indivíduos para “aprender a aprender”, de modo a serem capazes de lidar positivamente com a contínua e acelerada transformação da base tecnológica. (Sociedade da Informação no Brasil: livro Verde, p.45).

A autonomia no processo de aprendizado será cada vez mais um valor agregado para a formação de um cidadão e de um profissional. Não há como desvincular o aprendizado constante de todas as atividades da vida.

Esta formação demandada pela Sociedade da Informação ainda é pouco discutida pelos educadores. Há outras prioridades formando névoa diante dos olhares.  Problemas com a violência nas escolas, má distribuição de recursos, remuneração e formação de educadores, distribuição das tecnologias de informação por todas as regiões do país são apenas algumas das questões que requerem atenção emergencial. Porém, isto não significa relegar a último plano a importante discussão da Educação na Sociedade da Informação. Será um problema de método ou de metodologia? Será uma questão de adequar a educação aos novos valores econômicos e culturais ou isto é modismo que nada tem haver com a forma como educamos nossos futuros cidadãos/profissionais?

Nas diretrizes do Livro para a Sociedade da Informação no Brasil, prevê-se a intensificação dos cursos de educação à distância (EAD). Uma excelente ferramenta para ampliar o acesso a educação. No entanto, é preciso considerar que para o aprendizado à distância que o indivíduo tenha capacidade de gerenciar seu aprendizado, “aprender a aprender” pesquisando e estudando de forma autônoma. Mas sabe-se que poucas pessoas tiveram a oportunidade de desenvolver esta aptidão. Sabe-se também que a maioria da população tem dificuldades de compreender as leituras que faz. São os chamados analfabetos funcionais. Até que ponto a sociedade tem proporcionado uma educação que gere autonomia no pensar? 

O próximo texto deste artigo aponta a gravidade do analfabetismo funcional no Brasil e tem o problema como referência para o debate sobre a importância de se estabelecer de fato uma Educação para a Sociedade da Informação.

 

  1. Analfabetismo funcional no Brasil

 

O índice de alfabetismo funcional (INAF) foi criado em 1970 pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), trata-se de um indicador para verificar a qualidade da escrita e da leitura tendo em vista observar qual o potencial de uso deste conhecimento para que a população continue aprendendo, desenvolvendo suas habilidades.

Desde 1990 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsabiliza-se pela divulgação do INAF. Para calcular este índice o IBGE considera principalmente o número de séries concluídas; portanto defini-se como analfabeto funcional os brasileiros com menos de quatro anos de estudo. 

A metodologia usada para medir o INAF usa testes de leitura e escrita; questionários informando inclusive sobre históricos familiares. Em 2005 foram entrevistadas 2000 pessoas na faixa etária entre 15 e 64 anos.

Os entrevistados foram distribuídos em quatro grupos conforme os resultados de seus testes. São eles:

  1. Analfabetos (os que não conseguiram realizar tarefas simples como decodificação de palavras e frases);
  2. Alfabetizados Nível 1 (os que fizeram uso precário da língua, capazes de ler títulos ou frases e localizar informações bastante explícitas no texto);
  3. Alfabetizados Nível 2 (os que tiveram capacidade de ler um texto curto, localizando uma informação explícita ou que exigisse uma pequena inferência);
  4. Alfabetizados Nível 3 (os que fizeram uso pleno da língua: lêem textos mais longos, capazes de localizar e relacionar mais de uma informação, comparar vários textos e identificar fontes).

Os resultados obtidos foram os seguintes: 7% correspondem aos classificados como analfabetos; 30% foram classificados como alfabetizados de nível 1; 36% foram classificados como alfabetizados de nível 2 e apenas 26% foram classificados como alfabetizados de nível 3.

Os resultados podem ser observados tendo como referência questões econômicas e sociais. Quanto ao gênero, pode-se concluir que o fato de as mulheres buscarem melhores oportunidades no mercado de trabalho fez com que elas aumentassem a quantidade de anos de estudo; as mulheres correspondem a 53% dos alfabetizados de nível 3. As questões de raça, ainda não mudam, indivíduos negros do sexo masculino, continuam tendo pouco acesso à educação e correspondem a 66% do total de analfabetos.

É fato que o número de pessoas que se classificam como alfabetizadas também aumentou nos últimos três anos. No entanto a qualidade desta alfabetização deve ser questionada visto que 68% da população ainda é considerada analfabeta funcional (enquadra-se nos níveis 1 e 2 de alfabetizados).

Ter mais da metade da população com esta dificuldade implica pensar que em poucos anos teremos que capacitar esta mão-de-obra para (re) adequá-la ao mercado de trabalho. Aliás, isto já é feito paliativamente em programas nacionais de qualificação profissional. É preciso incentivar o aprendizado autônomo e a educação ao longo da vida para superar esta defasagem e, mais, formar tendo em vista não apenas a alfabetização (ou reconhecimento de letras), mas formar para a busca de um auto-desenvolvimento.

Além destas questões, a alfabetização digital já não é mais a principal tônica das discussões. É também de primordial importância que o país planeje a promoção da inclusão informacional. Isto significaria dar ênfase em uma formação que envolva o desenvolvimento de habilidades de análise e interpretação da informação.

 

Neste artigo o contexto da discussão sobre a alfabetização digital é também um dos vieses que levam à reflexão sobre a urgência da alfabetização informacional no Brasil e essa temática vai além do aprendizado que restringe-se à operação de máquinas e softwares.

 

  1. Cenários da exclusão digital

Desde o final da década de 1990, no Brasil observa-se uma pressão sobre instituições públicas por maiores investimentos em ferramentas de Tecnologia de Informação e Comunicação (TICs) tais como softwares e computadores. Podemos citar aqui instituições como o Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dentre outros responsáveis por desenvolver pesquisas e disseminar informações fundamentais para a gestão dos recursos destinados à Educação do país.

O próprio Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI. Br) foi criado em 1995 para atender algumas das demandas do Programa para Sociedade da Informação. Mais especificamente para coordenar e integrar todas as iniciativas de serviços Internet no país. Uma dessas demandas envolve as questões da exclusão digital, seus impactos sobre o desenvolvimento social e econômico para a população.

As últimas pesquisas do CGI foram realizadas entre julho e agosto de 2006 e apontam que apenas 19,63% da população possui computadores em seus domicílios. Deste percentual, 21% pertecem às classes C, D/E. Ainda apresenta outros indicadores relacionados diretamente à Educação:

  1. 57,13% dos usuários usam a Internet para realizar atividades/pesquisas escolares;
  2. 19,86% usam a internet para fazer cursos on-line;
  3. 17,97% usam a internet para trocar mensagens relativas ao curso com colegas/tutor;
  4. 14,02% usam a internet para buscar informações sobre cursos de extensão e pós-graduação;
  5. Apenas 6,76% usam a Internet para fazer cursos on-line.

Tais informações demonstram o quanto ainda é preciso investir em incentivo e em recursos para que a parcela da população mais economicamente vulnerável possa ter acesso às tecnologias de informação e comunicação (TICs).

Essa abordagem pode causar algum tipo de estranhamento, pois une duas vertentes aparentemente distintas. No entanto, para a pauta das discussões traz um debate já bastante difundido por instituições como a UNESCO e IBGE. Um dos primeiros documentos publicados sobre a exclusão digital no Brasil teve coordenação de NERI (2003), intitulado “Mapa da exclusão digital” e trata das disparidades referentes ao acesso à tecnologia.

Infelizmente o cenário mudou pouco e demonstra evolução lenta se comparado com o ritmo das demandas nas empresas e no mercado de trabalho.

SORJ (2003), em “Brasil@povo.com: a luta contra a desigualdade na Sociedade da Informação” tratou de maneira abrangente das várias questões que afetam os indivíduos. Uma delas, a questão da educação e da inclusão digital:

Enquanto o uso da chamada linha branca de eletrodomésticos e do telefone, rádio e TV não exigia praticamente nenhuma formação educacional, a telemática não só supõe, no mínimo, a alfabetização do usuário, como sua utilidade potencial depende da capacidade intelectual de selecionar, analisar, compreender e avaliar a informação disponível. Embora a Internet possa influenciar a capacidade de análise do usuário, esta, em princípio, se constitui, como veremos, em boa medida fora da Internet. Enquanto para o usuário com limitada competência analítica a Internet é um instrumento de informação, para o usuário com maior capacidade analítica e de aprendizado a Internet é um instrumento de conhecimento. (SORJ, 2003, P.32)

Quais são os métodos para proporcionar à população uma formação adequada à Sociedade da Informação? Nesta sociedade, o teletrabalho, as redes de colaboração e a gestão do conhecimento não são mais meras projeções de futuro, são realidades postas e em constante processo de desenvolvimento. Este fato torna ainda mais urgente a mudança na estrutura e nas formas de ensinar estabelecidas para as escolas brasileiras.

A questão não passa apenas pelo investimento em equipamentos para as escolas. Deve-se agregar a isto, um método de ensino que priorize a formação baseada na autonomia e no desenvolvimento da capacidade de pesquisa e compartilhamento em grupos ou redes de colaboração. 

 

  1. Quem quer seguir trilhos de “linhas retas” numa era de “navegação” por Oceanos de saber?

Quem vai seguir apenas o curso de um rio se pode explorar o mar? Esta metáfora é uma provocação para a reflexão sobre o porquê de muitos jovens acharem a escola desinteressante. O aprendizado pode acontecer em diversos ambientes, dos mais inusitados até os mais propícios. 

No entanto, o contato com a informação sem o compromisso da imitação ou da repetição é muito mais divertido, motivador e instigante. Por isso, jovens da atualidade aprendem tanto na Internet, nos espaços de lazer, arte, cultura e esportes.

Lévy (1999), relata sobre algumas transformações que deverão afetar a educação:

 

  • Novas formas de acesso à informação: navegação por hiperdocumentos, caça à informação através de mecanismos de pesquisa, knowbots ou agentes de software, exploração contextual através de mapas dinâmicos de dados.
  • Novos estilos de raciocínio e de conhecimento, tais como a simulação, verdadeira industrialização da experiência do pensamento, que não advém nem da dedução lógica nem da indução a partir da experiência. (LÉVY, p. 157, 1999)

A palavra “curso” lembra conteúdos sendo ensinados numa dada seqüência sem espaço para investigações mais detalhadas de determinados pontos, sem direito a uma personalização conforme o olhar e a experiência do aprendiz. Assim está definido: “curso”; acessar somente o que há no “pacote de conteúdos”. 

Um método menos “linear” e mais “personalizado”, ou melhor, um método mais “navegável” talvez fosse uma maneira, uma alternativa para educar na Sociedade da Informação. Proporcionar ferramentas que ajudem o aluno a utilizar sua autonomia para aprender é mais importante do que definir o que ele pode aprender. Lévy em “Cibercultura” defende a criação de novos modelos, maneiras menos arbitrárias de dar acesso ao conhecimento:

Devemos construir novos modelos do espaço dos conhecimentos. No lugar de uma representação em escalas lineares e paralelas, em pirâmides estruturadas em “níveis”, organizadas pela noção de pré-requisitos e convergindo para saberes “superiores”, a partir de agora devemos preferir a imagem de espaços de conhecimentos emergentes, abertos, contínuos, em fluxo, não lineares, se reorganizando de acordo com os objetos ou os contextos, nos quais cada um ocupa uma posição singular e evolutiva.(…) Mas o essencial se encontra em um novo estilo de pedagogia, que favorece ao mesmo tempo as aprendizagens personalizadas e a aprendizagem coletiva em rede. Nesse contexto, o professor é incentivado a tornar-se um animador da inteligência coletiva de seus grupos de alunos em vez de um fornecedor direto de conhecimentos (LÉVY, p.158, 1999)

Lévy ainda refere-se a uma outra transformação na educação que trataria de uma descentralização do conhecimento. Ou seja, o reconhecimento das experiências adquiridas através de atividades sociais e profissionais será uma alternativa para criar um conjunto de saberes não-acadêmicos, esses também estarão disponíveis aos que quiserem usufruir dele.

Lima descreveu que as “mutações em educação” vão exigir o tratamento do “imprevisível”:

Educar já não é prever as necessidades socais, mas preparar os jovens para o imprevisível. Toda idéia de treinamento a longo prazo é indébita (embora a curto prazo seja ainda a solução imediatista para um país subdesenvolvido). Ora, como se pode imaginar educação para o imprevisível? A resposta parece ser: desenvolver a capacidade de resolver problemas, o que minimiza a idéia de currículos e de programas, trocando-se a ênfase sobre os conteúdos por uma ênfase sobre as técnicas. (LIMA, p.18, 1980)

Os educadores tradicionais vão classificar tais colocações como um desrespeito aos seus programas “bem intencionados”, mas há uma falha nos programas: eles insistem em formar pessoas despreparadas para a realidade competitiva das mudanças constantes e da avalanche de informações no cotidiano.

Ainda Lévy em “O que é o Virtual” apresenta importante questão sobre a desterritorialização do texto que reflete a eminência das mudanças nos processos de aprendizado nas salas de aula:

A interpretação, isto é, a produção do sentido, doravante não remete mais exclusivamente à interioridade de uma intenção, nem a hierarquia de significações esotéricas, mas antes à apropriação sempre singular de um navegador ou de uma surfista. O sentido emerge de efeitos de pertinência locais, surge na intersecção de um plano semiótico desterritorializado e de uma trajetória de eficácia ou prazer. Não me interesso mais pelo que pensou o autor inencontrável, peço ao texto para me fazer pensar, aqui e agora. A virtualidade do texto alimenta minha inteligência em ato. (LÉVY, 1996, P.49)

 

“Desterritorializar” o aprendizado dando vazão à busca na infinidade de conteúdos e possibilidades de suportes nos quais estes conteúdos são encontrados. Exemplo: um texto que leva a uma música, que leva a uma gravura, que leva a um poema e que faz voltar ao texto inicial. “O navegador” ou “a surfista” têm o leme nas mãos, basta que os educadores percebam que esta autonomia deve ser dada aos seus educandos. 

Neste contexto a não-linearidade representa ainda mais um desafio, o de saber quando e como promover a liberdade da pesquisa sem que isto implique em perda de foco. Tal foco está intimamente ligado às identidades, às questões locais do ambiente onde reside o aprendiz e mais, ao desenvolvimento da cidadania pela qual este aprendiz tornar-se-á profissional e agente social.

 

  1. Considerações finais

O uso da palavra “método” neste artigo teve o objetivo mais provocador que propriamente conceitual. A primeira ideia é a promoção de reflexões sobre métodos de ensino que incentivam a autonomia e o espírito investigativo nos alunos. Talvez, em detrimento de tantas dificuldades e obstáculos encontrados no cenário brasileiro, a expectativa esteja além das possibilidades de efetiva mudança. Mas há que se dar um primeiro passo, através de inovação ousada e responsável, sabendo que o objetivo principal é proporcionar às crianças, aos jovens e aos adultos uma educação condizente com seu tempo e com as demandas deste tempo.

Educar na Sociedade da Informação é ação contínua que se estende por toda a vida, não importa se serão saberes acadêmicos. O fato é que o saber e o aprendizado estão instalados nas tarefas mais corriqueiras. Por isso, é fundamental lutar contra um índice de 68% de analfabetismo funcional. Pois, para desenvolver a capacidade de “aprender a aprender” a pessoa precisará ter desenvolvido sua capacidade de ler e escrever de maneira eficiente.

A autonomia no aprendizado será vital para continuidade no mercado de trabalho. Para tanto, não é possível mais aceitar como meta a simples redução do analfabetismo ou mera operação de computadores para superar a exclusão digital. É preciso muito mais que “ler letras”, é preciso relacionar, analisar, conseguir contextualizar o saber; do contrário, estaremos relegando nossos aprendizes à condição de adestrados.

O que fazer? Desconstruir o método de ensino baseado na “linearidade” de conteúdos. Instituir formas de educar que privilegiem a pesquisa, aprendizagem coletiva, a curiosidade individual e/ou aprendizagem personalizada. Instituir a cultura e o método de ensino através da “navegação” por conteúdos conforme as necessidades e os objetivos do aprendiz. Saindo da arbitrariedade dos programas lineares.

A não-linearidade do aprendizado/ensino pode ser implementada também tendo por base a navegação na Internet e as inúmeras possibilidades que atualmente seus conteúdos proporcionam. Um aluno estudando Química na Internet pode interessar-se por História e por Física a questão aparece à medida que as perguntas vão aflorando. E tais perguntas podem ser incentivadas, assim como pode ser incentivada a investigação das possíveis respostas. Caberá ao professor/tutor respeitar esta profusão de questionamentos sabendo conduzir o(s) aluno(s) ao campo da pesquisa, inclusive em como definir se uma fonte é ou não adequada para a coleta de conteúdos, seja ela eletrônica ou não.

O método de “navegação” pelo conhecimento não está relacionado apenas aos processos de educação a distancia através da internet, ele deve ser aplicado também em processos de ensino presencial. Lidando com textos sequenciais ou hipertextos; a proposta é dar liberdade e tempo de o aprendiz despertar suas potencialidades como pesquisador. E ao professor é dado o papel de “animador”, “gerente de pesquisa”, “estimulador de busca” e “coordenador de resultados”. 

Portanto, ao novo professor cabe o papel de tutoria ou coordenação de pesquisas dos aprendizes ajudando-os a “navegar” através das informações em variados suportes. De acordo com as palavras de FREIRE (1996) em “Pedagogia da Autonomia”:

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. (FREIRE, 1996, p. 29)

Dessa forma, deve-se refletir: se o próprio Paulo Freire já havia tanto sinalizado sobre a importância da pesquisa (mesmo antes do advento da Internet!), porque ainda observa-se este quadro estático da educação brasileira? O conceito de não-linearidade deve ser incluído como processo que predispõe formar para as realidades da Sociedade da Informação. Sendo este processo independente de ferramentas de tecnologia ou de práticas que coloquem em destaque apenas o uso operacional de hardwares ou softwares. Agora é tempo de se colocar em evidência o potencial humano que nada tem de linear.

 

Referências

ALVES, Rubem.A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir Campinas: Papirus Editora, 2001.

Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI. Br) – http://www.cgi.br/sobre-cg/index.htm

FIGUEIRA, Mara. Brasil, um país de analfabetos. DIGA LÁ/SENAC – Revista do Agente de formação profissional, Rio de Janeiro, n.45, p.2-5, out./nov./dez. 2005. 

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (Coleção Leitura).

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – http://www.ibge.gov.br

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) – http://www.inep.gov.br 

Instituto Paulo Montenegro/Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF) –http://www.ipm.org.br/ipmb_pagina.php?mpg=4.06.00.00.00&ver=por

LÉVY, Pierre. O que é o Virtual. São Paulo: Editora 34, 1996. (Coleção TRANS)

__________. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. Capítulo X – A nova relação com o saber, p.157-167. (Coleção TRANS)

LIMA, Lauro de Oliveira. Mutações em educação segundo McLuhan. Petrópolis: Vozes, 1980.

MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos & BEHRENS, Marilda. Novas tecnologias e mediação pedagógica. São Paulo: Papirus, 2000.

Ministério da Educaçãohttp://www.mec.gov.br

NERI, Marcelo Cortês. Mapa da exclusão digital. Rio de Janeiro:FGV/IBRE, 2003. Acessível em: http://www2.fgv.br/ibre/cps/mapa_exclusao/Inicio.htm

SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO NO BRASIL, Livro Verde./ Org. Tadão Takahashi. Brasília: Ministério de Ciência e Tecnologia, 2000.

SORJ, Bernardo. brasil@povo.com: a luta contra a desigualdade na Sociedade da Informação. – Rio de Janeiro : Jorge Zahar ED. ; Brasília, DF: Unesco, 2003.

UNESCO BRASILhttp://www.unesco.org.br

 

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NOTAS DE LEITURA LIVRO: FOGO LIBERTADOR, O. PIERRE LÉVY – COLABORAÇÃO DE DARCIA LABROSSE – ED. ILUMINURAS – 2000.

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Buscando informações sobre Identidade x Consciência

“O tempo não passa.” (Tempos e espaços do ser)

“Aqui convergem todos os tempos. Agora contém todos os lugares.”

“(…) não há nada a esperar, nem nada a atingir. Estamos aí. Já estamos aí. Estamos aí desde sempre.” (p. 77)

O capítulo da Identidade

“Abandone para sempre as opiniões que os outros têm de você. Afaste-se completamente das imagens e representações que você faz de si mesmo. Abandone totalmente qualquer ideia de mérito ou culpa, de inferioridade ou de superioridade. Não há nada a ‘provar’, nem para si nem para os outros. Pare de perguntar quem é você é. A identidade é uma sujeição: você só é manipulado porque forjou uma imagem de si mesmo. A identidade é uma prisão. Saia do labirinto da identidade.” (p. 87)

A consciência habita o tempo presente e pode estar em todos os lugares com variadas facetas de si mesma. A consciência não se aniquila diante da identidade é estar eterno e a percepção do todo contido em si mesma. Micro e macrocosmos. Enxergar isto é estar consciente ou como defende o autor, Pierre Lévy, “estar presente”.

Às vezes, estar presente significa conectar-se a um “avatar”, uma energia, uma história na linha do tempo e do espaço, lançando-se no multiverso das identidades.

O que é a meditação do “EU SOU”? É a busca da conexão com todo e todas as possibilidades de si mesmo. Quase que como uma busca bioquímica na biblioteca da nossa memória celular e ancestral, conhecida como inata.

Em seu livro “O que é Virtual”, Pierre Lévy indica o psiquismo como fonte de informações sobre esta inata:

“Simetricamente, a vida psíquica manifesta-se como um fluxo dos afetos.” (p. 105)

A memória das células está conectada ao coração ou aos afetos para os quais este coração direciona suas pulsações. Compreender estas informações que nunca foram palpáveis para nós é um desafio para a ciência da atualidade que busca simular a consciência humana em ambientes digitais.

A egrégora compreendida

“Tal como atestam a mitologia, os contos e toda literatura, a família é o lugar privilegiado de ação da maldade.” (p. 127)

Então, a egrégora na qual nos encontramos não diz respeito ao lugar, mas sim, sobre os atores, a família materializa estas personagens que animam afetos e referências com os quais nossos corações vibram.

 Consciência

“Desconfie dos mortos-vivos.

A negligência, o caminho da mente.

Os vigilantes nunca morrem.

Os negligentes vivem mortos.

DHAMMAPADA” (p. 128)

(…) E, a luz dos amantes me despertou, me libertou e me trouxe a solidão verdadeira e necessária. A solidão do encontro com meu verdadeiro amor. (Hermafrodita do caduceu, o anjo com dois sexos/O ser completo).

Sense8: conectar-se com outras consciências por meio do acesso à fonte. (A fonte é tal qual uma malha neuronal que percebe, absorve e suporta o TODO – sensível ou percepção máxima do que poderíamos chamar de “psiquismo integral”)

A única chave para a fonte é a pureza do amor. Então, nos tornamos anjos no sentido simbólico e psíquico.

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